IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 126 | 01/04/2021 a 30/05/2021

Fala, Professor!

CIDADE PRA QUEM? Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor

O professor do departamento de Filosofia, Ângelo José Salvador, e agente Pastoral da PUC Minas faz uma reflexão sobre a desigualdade e os desafios existentes nas cidades, à luz da Campanha da Fraternidade de 2021.  O tema proposto para 2021 é: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor e o lema, “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14a). Neste ano a Campanha da fraternidade é ecumênica (CFE), ou seja, não só a Igreja Católica é responsável pela elaboração do texto base, mas também todas as Igrejas Cristãs que fazem parte do CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.

O tema da CFE nos convida a vivenciar a paz como um horizonte que ilumina nossa realidade. Ao caminhar em direção a esse horizonte, percebemos que a realidade a nossa volta é marcada por extremas desigualdades. De fato, segundo pesquisa do IBGE realizada ano passado, no Brasil 1% dos mais ricos ganham 33,7 vezes mais do que os 50% mais pobres. Como nos alerta a CFE, como podemos falar de paz quando milhões de pessoas não têm trabalho, morrem de fome ou não possuem moradia?

Quando observamos nossas cidades quantas pessoas vivem em situações precárias, sem saúde, saneamento básico, educação, enfim, sem condições a uma vida digna. A economia deve ser pensada tendo como fim último a pessoa, ou seja, ela deve ser um meio que viabilize uma vida plena. Mas, na lógica da cidade, principalmente das metrópoles, quem tem mais recursos desfruta de melhores condições, entretanto, aqueles que não participam do mercado simplesmente sobrevivem, pois não lhes resta mais nada a não ser lutar pela própria sobrevivência. Essa realidade se agravou ainda mais com a Pandemia que escancarou o abismo social de nossa sociedade. 

Nesse aspecto a CFE enumera quatro pontos que nos orientam a pensar o tema da paz em nosso cotidiano. O primeiro é o “VER” – é um convite a olhar os acontecimentos à nossa volta e marcam profundamente nosso convívio social. Mas não basta apenas ver é preciso observar se as alternativas e saídas às questões levantadas são condizentes com a Boa Nova do Evangelho.

O segundo ponto é o “JULGAR” – a partir da Boa Nova somos convidados a pensar a realidade. O “julgar” é um processo de conversão, os corações e mentes se abrem à alegria do Evangelho. Viver o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”, significa iluminarmos nossa caminhada, em especial no contexto das cidades, onde muitos não são reconhecidos em suas necessidades mais básicas.

O terceiro ponto é o “AGIR” – o que podemos fazer para transformar nossa realidade em um lugar onde os muros das gravíssimas diferenças sociais e econômicas nos separam? Quais estratégias podem ser pensadas e viabilizadas? Como podemos unir forças e lutar por uma sociedade mais igualitária? Enfim, o “agir” é o mergulho na realidade e inspirados pela Boa Nova, somos convidados a transformá-la. Esse é o passo decisivo para viver a plenitude do Evangelho, pois “nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21).

O quarto e último ponto é o “CELEBRAR” – Momento belo em que todos celebram a diversidade da criação de Deus. Quem crê quer se aproximar do irmão e da irmã, do cristão e do não cristão, e acima de tudo, estender a mão ao caído para que ele sinta sua dignidade recuperada. Apesar de todas as mazelas somos chamados a “celebrar” a gratuidade divina que nos impulsiona a construir uma sociedade de paz superando tudo aquilo que nos divide.

Enfim, a paz é uma tarefa diária e que deve ser renovada constantemente. Não podemos permitir que nos roubem a esperança de construirmos uma sociedade mais justa e fraterna. A pobreza é um empecilho grave à paz; é uma afronta ao Evangelho. A cidade é um espaço que precisa de nosso olhar para vermos as mazelas e julgá-las à luz da Boa Nova e agirmos em prol da igualdade de condições. Precisamos anunciar e celebrar esse Deus misericordioso em nossas vidas, em nossas famílias, em nossa universidade e em nossas cidades.

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

imprensaiec@pucminas.br | (31) 3131-2824