IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 126 | 01/04/2021 a 30/05/2021

Destaque

Cidades felizes para pessoas felizes

Em fevereiro deste ano, o padre Júlio Lancellotti virou notícia, e uma imagem, especificamente, foi amplamente divulgada: trata-se do pároco empunhando uma marreta embaixo de um viaduto em São Paulo. Sua ação foi uma resposta à Prefeitura de São Paulo (Bruno Covas / PSDB), que instalou blocos de paralelepípedos embaixo dos viadutos da Zona Leste. A medida, que recebeu críticas por ser vista como forma de retirar a população de rua do local, serviu de ponto de partida para o artigo do professor Wagner Delgado Costa Reis que, excepcionalmente, figura hoje na seção Principal do Boletim. Wagner é professor do curso Cidades Inteligentes, pós-graduação do IEC, engenheiro eletricista formado pela PUC Minas e coordenador do Projeto Cidades Felizes do Instituto Movimento pela Felicidade, IMF.

Boa leitura!

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            Há um ditado que diz que resultados diferentes e melhores só são possíveis se fizermos algo distinto do que fazíamos, ou seja, é preciso criar um movimento em outra direção. Sob essa perspectiva, pergunto o que poderíamos fazer para criar uma cidade feliz? E mais: como fazer diferente para que esta casa de muitos habitantes possa ser mais acolhedora, democrática, orgânica?

            A premissa é cada um de nós sair um pouco de sua caixa, da sua zona de conforto, passando a conjugar o verbo na 1ª pessoa do plural: nós. Para tanto, é necessário sair de uma posição reativa e crítica para a participação proativa nas soluções de questões coletivas e do bem comum.

            É necessário provocar uma reflexão interna e buscar, em nosso íntimo mais profundo e verdadeiro, respostas sobre nossa participação na construção coletiva da sociedade: como lido com as coisas do bem comum, como percebo o “outro” (próximo ou não)? Sinto-me indignado com a miséria que vejo nas ruas e tomo alguma atitude? Sou indignado com a corrupção e a política de baixo nível e faço algo para efetivamente transformar essa realidade? Essas e tantas outras reflexões devem ser feitas, mas só serão válidas se forem profundas e verdadeiras e nos levem a querer, com vontade autêntica, participar de um processo de transformação por uma nova e melhor sociedade.

            Refletir sobre nossos hábitos e suas consequências para si, os outros e o ambiente, buscando praticar algo que nos dê mais propósito e sentido à vida: este é um dos pontos citados pelos estudiosos da Ciência da Felicidade como fator decisivo para que tenhamos a percepção de sermos felizes plenamente.

            Aprendemos no mundo empresarial que é necessário medir aquilo que queremos gerenciar, e precisamos ter boas métricas para garantir que estamos no caminho certo para atingir resultados. A medição do desenvolvimento humano com base no Produto Interno Bruto, PIB, importante em determinado momento de nossa história, se mostra exaurido e apresenta efeitos colaterais indesejados e comprovados. Um desses efeitos é a constatação de que o foco apenas na questão econômica não garante que estejamos no caminho certo para bons e sustentáveis resultados coletivos.

            Vários grupos de cientistas e economistas defendem a mudança da métrica de desenvolvimento para um modelo que tenha em seu centro o ser humano. Este novo modelo, em contraponto ao PIB, seria o modelo de Felicidade Interna Bruta, FIB, que aplica uma métrica matricial e disposta em 9 dimensões. Além da questão econômica, este modelo traz como métricas o bem-estar psicológico, meio ambiente, saúde, educação, vitalidade comunitária, cultura, uso do tempo e governança. O foco claro são as pessoas e não o resultado do que elas produzem.

            O caminho para a transformação passa pela política, em todos os sentidos, não apenas partidária, mas buscar a motivação pessoal para exercer o papel político e cidadão que nos cabe, na sociedade, na família, no emprego e associações em que participamos.

            É preciso fortalecer o foco no bem comum, em um grande movimento de educação cidadã e engajamento da sociedade no diálogo construtivo e respeitoso à diversidade de opiniões, sempre buscando algo de maior significância para todas as pessoas.

Um movimento de transformação ao nosso alcance

            Movimentos de transformação efetivos começam em pequenas escalas e precisam crescer de forma sustentável e focados em um bom propósito. Para tanto, é necessário ter metodologia, tecnologia, conhecimento de processos a serem estruturados, bem como disposição para diálogo e gestão de conflitos.

            Aplicar estas práticas em municípios se mostra uma boa opção para um processo de transformação da sociedade. Para tanto é necessário despertar o interesse e o olhar para a prática do bem comum e causas coletivas, potencializando a percepção de felicidade individual e na sequência uma felicidade coletiva da sociedade, transformando-a em uma “Cidade Feliz”.

            O conceito de “Cidade Feliz” está justamente na soma de contribuições individuais às causas do bem comum, de acordo com a capacidade e habilidades que possam ser disponibilizadas pelas pessoas, podendo ser ilustrado com a composição gráfica abaixo.

 

O alicerce principal está no relacionamento humano, que deve ser amoroso e participativo em projetos coletivos, fortalecendo o protagonismo das pessoas e o espírito de cidadania, buscando resgatar a dignidade e autorrealização.

            São diversos conceitos, iniciativas e projetos que criam oportunidades de participação, onde cada pessoa tem a liberdade de escolha.

De forma não exaustiva, podemos citar algumas iniciativas estruturantes:

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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