Tatiana Paulucci

O envelhecimento populacional mundial é uma das principais tendências do século XXI. Até 2050, a população mundial com mais de 60 anos vai passar de 841 milhões para 2 bilhões, tornando as condições crônicas e o bem-estar da população idosa desafios de saúde pública.

O envelhecimento da população brasileira tem ocorrido de forma rápida, quando comparado aos países desenvolvidos, somado ao despreparo da sociedade para lidar com esta novidade social tem ocasionado impacto direto nos sistemas de saúde pública e previdenciário do país, e na forma de cuidar dessas pessoas. 

Apesar de ser um processo natural e desejado (quem de nós não deseja envelhecer?), não estamos ainda preparados para tratar o envelhecimento como uma etapa da vida que merece cuidados específicos. Com o aumento da expectativa de vida, a pergunta que precisamos fazer, enquanto sociedade é: como proporcionar bem-estar e qualidade para esse grupo? 

A maior carga de doenças crônicas e incapacidades funcionais nesta população resulta em uma demanda crescente por serviços de saúde, principalmente aqueles de acompanhamento constante, cuidados permanentes, medicação contínua e exames periódicos. No Brasil e em boa parte dos países subdesenvolvidos, a escassez de recursos para esta demanda é alta, não estando limitado à carência dos recursos financeiros.

Um dos principais desafios diz respeito ao acompanhamento permanente de idosos frágeis com multimorbidades e/ou demências, situações de elevada complexidade que exigem um cuidado especializado de equipes de saúde preparadas, incluindo os cuidadores domiciliares. A capacitação de cuidadores e profissionais da saúde é essencial para assegurar um cuidado de qualidade à estes pacientes.

No Brasil, evidencia-se a precariedade das políticas públicas voltadas a este tipo de cuidado e o fato de que as responsabilidades com o idoso acabam por recair sobre as famílias, as quais se encontram despreparadas para tal.

A questão da sobrecarga familiar e da vulnerabilidade do idoso fica ainda mais evidente frente ao impacto gerado por doença incapacitante, progressiva, de curso insidioso e devastador, como o provocado pela demência.

A demência é uma das condições crônicas mais comuns no idoso e a maior causa de incapacidade e mortalidade. A demência possui associação direta com o envelhecimento, assumindo proporções epidêmicas, estando presente em 5% dos indivíduos acima de 65 anos e em 20% ou mais dos indivíduos acima de 80 anos.

A vulnerabilidade social de muitas famílias dos idosos brasileiros traz consequências danosas para o cuidado destes, proporcionado agravos em saúde e perda progressiva da qualidade de vida. As dificuldades de sobrevivência, associadas à carência de conhecimento para o manejo adequado dos idosos em processo demencial acabam transformando o adoecimento desse idoso numa experiência ainda mais difícil de suportar. Não raro, a sobrecarga do cuidador do idoso com demência torna-se insuportável, ocasionando conflitos e desagregações na estrutura familiar, induzindo à institucionalização.

Desta forma, torna-se fundamental a adoção de estratégias para melhorar a prevenção dos desfechos negativos no processo de envelhecimento, tais como: capacitar o maior número de profissionais de saúde para abordagem adequada ao idoso, serviços de saúde preparados para efetivo abordagem integral do idoso, investimento em auto cuidado apoiado e a democratização de cuidados de excelência a todos os idosos.

 

Tatiana Paulucci é professora de Gerenciamento do Cuidado ao Idoso e Cuidados Paliativos no curso de Pós-graduação em Gerontologia da PUC Minas. Mestre em Saúde Pública, com MBA em Gestão e Especializaçõo em Epidemiologia Hospitalar.