IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 116 | 25/11/2019 a 25/12/2019

Em dia com o Mercado

Os velhos somos nós... amanhã

A assistente social Karla Geovani Silva Marcelino afirma que a pós-graduação em Gerontologia foi um divisor de águas em sua trajetória profissional. Aluna da primeira turma do curso, Karla trabalhou por 20 anos na Casa da Esperança (Instituição de Longa Permanência com Idosos) do Núcleo Assistencial Caminhos para Jesus. Atualmente ela é servidora pública no Município de Contagem na Secretaria Municipal de Saúde e atua na Superintendência de Atenção à Saúde como Referência Técnica em Saúde da Pessoa Idosa.

Como se não bastasse, desde 2014 Karla atua como pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa PHASE/PUC MINAS (Processos Heurísticos e Assistenciais em Saúde e em Enfermagem) e, recentemente, foi aprovada em dois programas de mestrado na área de saúde pública. Na entrevista abaixo, ela fala sobre sua trajetória profissional, seus desafios e perspectivas. Confira!

1) Como é a rotina do seu trabalho? Quais as suas atribuições diárias?

A rotina do meu trabalho é bem dinâmica; exige concentração, agilidade e estratégias. Preciso estar atualizada às diretrizes e portarias do Ministério da Saúde, do Estado e da direcionalidade do município para atenção à saúde nos vários níveis, além da leitura de artigos voltados a área da saúde pública e saúde coletiva para subsidiar ações de saúde voltada à população idosa. Tenho uma rotina que varia entre reuniões, suporte técnico, articulações com demais secretarias, participação enquanto conselheira no conselho municipal tanto do idoso quanto da assistência social e participação em grupos de trabalho. A principal atribuição do meu cargo é promover a discussão e ações para a implementação da Política Nacional de saúde da Pessoa Idosa (GM/MS nº 2.528, de 19 de outubro de 2006). Meu trabalho é voltado para conhecer e organizar a atenção a saúde do idoso de acordo com o perfil epidemiológico e de saúde de cada distrito visando subsidiar a formulação de políticas públicas e assessorar no planejamento de ações que visem uma atenção integral e integrada a população idosa de Contagem.

2) Como foi a sua experiência no curso de pós-graduação da PUC Minas? Em que medida ele pautou ou alterou sua trajetória profissional?

Eu costumo dizer que a pós em Gerontologia foi um divisor de águas na minha vida e em toda a minha carreira profissional. Quando decidi pela pós-graduação eu já vinha de uma experiência profissional de mais de 10 anos com idosos. Mas, meu trabalho me trazia várias inquietações no cuidado ao idoso institucionalizado e entendi que precisava estudar e me especializar. As discussões em sala de aula, o diálogo com os colegas e os professores, a leitura das bibliografias sugeridas foram abrindo um mundo de conhecimentos. E a pós me oportunizou ainda a ingressar em um grupo de pesquisa, que faço parte até hoje, há 05 anos, além de realizar a minha própria pesquisa para a Tese de Conclusão de Curso. Essa experiência foi tão única e mágica na minha vida que decidi me desligar do meu vínculo profissional de mais de 20 anos e seguir a carreira apenas no serviço público e com a pesquisa.

3) Como você avalia a questão dos idosos no Brasil?

Grande parcela da população idosa envelhece em meio a múltiplas desigualdades, o que interfere em sua qualidade de vida. A questão do idoso no Brasil é um desafio. A velhice e o envelhecimento ainda estão cercados por preconceitos e estigmas. Temos uma excelente legislação, mas falta a implementação dessa política. O perfil das famílias mudou, o núcleo familiar está cada vez mais reduzido e não há em número suficiente quem possa cuidar. Temos como desafio desmistificar a velhice. Negar a velhice e o envelhecimento é negar a discussão, a demanda por serviços, a implantação de serviços voltados à população idosa independente do perfil do idoso: robusto, em processo de fragilização ou frágil. É muito comum a criação de serviços, programas e projetos voltados aos idosos robustos, mas só isso não é necessário. Há uma estimativa de que 30% da população idosa esteja entre o estágio pré-frágil e frágil, e fica a questão: quem está cuidando e como estão sendo cuidados? Qual é a participação social desses idosos? Falar de velhice é falar dos nossos entes queridos (pais, avós, tios...) e de nós mesmos (velhos do amanhã). Interessa a todos nós falarmos de um envelhecimento ativo e saudável, de convivência sociofamiliar e participação social.

4) Quais os desafios da sua área? E os maiores aprendizados?

O grande desafio da minha área é desmistificar o envelhecimento e a crença de que tudo que o idoso sente é da idade, o que não é verdade. A negação da velhice por cada um é um grande complicador, porque se a pessoa não se vê velha ou a velhice como seu futuro, ela não pensa a respeito e consequentemente não volta sua energia e ação para avanços nessa área. Os vários nomes dado a essa fase da vida (melhor idade, terceira idade) são a própria negação da velhice. Como qualquer outra fase da vida, a velhice tem suas especificidade e particularidades. Temos múltiplas velhices. Desde setembro deste ano estamos em parceria com a PUC Contagem realizando um curso para toda a Rede de Atenção Básica sobre Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa cujo objetivo primordial é qualificar a atenção voltada à pessoa idosa. Visando a intersetorialidade, cedemos algumas vagas do curso para a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania. O próximo passo será identificar e classificar cada idoso do território entre robusto, em processo de fragilização e frágil para se propor ações especificas a cada perfil de idoso.

5) Qual a dica você daria para os que pretendem seguir essa área de atuação? Qual a chave para um bom trabalho?

A chave para um bom trabalho é estudar e estar aberto para novos conhecimentos. Qualquer trabalho que nos dispusermos a fazer é necessário um conhecimento prévio e termos como missão a busca por novos conhecimentos. A universidade como o próprio nome diz é um universo de possibilidades. A dica é: siga em direção aos seus sonhos, em direção aos seus desejos e se disponha a se qualificar cada vez mais.

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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