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Sempre ouvi de meu pai, como muitos de nós ainda falamos para nossos filhos, que tudo pode se perder na vida, menos o saber acumulado. Era mais ou menos assim que ele dizia: “Meu filho, aproveite a oportunidade que muitos não têm. Tudo poderá ser retirado de você, menos a educação adquirida”.
Com base nessa velha máxima, ao longo do tempo, em especial depois de 1985, momento em que rompemos com um duradouro período de tirania no Brasil, vamos construindo e reconstruindo conceitos e preceitos relevantes, em torno de um bem social de valor imensurável, a educação.
Acabamos de assistir, no âmbito da PUC Minas, relevantes ações em torno da “lembrança” dos 50 anos do golpe militar de 1964. Excelentes debates foram organizados pelo Instituto de Ciências Humanas (ICH) e pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp). Também aqui na PUC Minas em Contagem, promovemos o Olhares Sobre o Golpe de 64: 50 anos depois. Tratou-se de importante evento, em parceria com a Prefeitura Municipal de Contagem / Fundação Cultural de Contagem (PMC/Fundap), que, além de uma mostra sobre os momentos do golpe e filmes comentados por nossos professores, também nos ofereceu a presença marcante do jornalista e teólogo, entre outras coisas, Frei Betto.
Num teatro lotado de estudantes do ensino médio do Colégio Santa Maria e da Funec Contagem, além de nossos alunos de graduação, professores e funcionários, várias autoridades e gestores, Frei Betto marcou uma de suas passagens com a célebre frase de que “a gasolina do ser humano é o sonho”. Contou-nos da sua experiência no cárcere e das tentativas de se apagar a história, seja contando-a de forma equivocada ou simplesmente desconsiderando-a. Referiu-se a uma democracia ainda frágil, que precisa avançar no campo das reformas estruturantes. Se bem que necessária, vejo-a como um sonho, pois, como Frei Betto, não consigo detectar em mais de 500 anos nenhuma reforma estrutural no Brasil.
Quando Frei Betto falava de sonhos e de liberdade, lembrei-me do ator Tim Robbins, no filme Um Sonho de Liberdade. Nesse drama, Robbins faz o papel do personagem Andy Dufresne, um jovem banqueiro preso por supostamente ter cometido um crime e que, antes de fugir da prisão, realiza uma série de atividades, entre elas ensinar detentos a ler e escrever. Pudéssemos nós educar os milhares de detentos do País e nossa realidade com certeza seria outra, em especial no que tange à segurança.
Meu pai, quando me falava sobre educação, sonhava com um futuro melhor para seus filhos. Frei Betto, como educador nato que é, quer nos dizer o mesmo, com palavras e vigor diferentes.
Para que não repitamos jamais o rancor, a tirania, a violência, o silêncio imposto, que tal sonharmos com o acesso pleno à educação, para todos os brasileiros? Vamos continuar nossa caminhada! A PUC Minas, com a sua missão e valores, em especial voltados para a formação humanística, tem contribuído e muito nessa caminhada.
Em breve, se Deus quiser, quando todos os brasileiros puderem sonhar e ter a educação como o principal bem de suas vidas, quiçá venhamos a usufruir desse sonho maior: a democracia plena.
Professor Robson dos Santos Marques Pró-reitor adjunto da PUC Minas em Contagem
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