O trabalho na vida social possui muitos significados e sentidos. O mundo se move por ele e por meio dele a vida se desenha e avança. E trabalhar se mostra essencial para a vida do homem. É por meio dele, que homens e mulheres se realizam e se dignificam. “É a primeira vocação do homem: trabalhar. E isto dá dignidade ao homem. É a dignidade que o faz assemelhar-se a Deus. A dignidade do trabalho.”, nos ensina o Papa Francisco em sua Encíclica O trabalho é a vocação do homem, de maio de 2020. A imprescindibilidade do trabalho para a economia indica que esta deveria, certamente, ter como base o bem-estar do trabalhador. Mas não tem sido assim. Desde as cruéis práticas escravagistas que, durante séculos, subjugaram povos e membros de comunidades de pessoas de cor de pele específicas até a gravíssima exploração dos trabalhadores na modernidade da Revolução Industrial, o trabalho tem sido, para a grande maioria, não um lugar de realização pessoal e social, mas de imposição de injustiça, sofrimento e alienação das riquezas que produz. Na contemporaneidade da tecnologia que revolucionou todo o globo, não parece ser exagero afirmar que os avanços tecnológicos não têm servido para amenizar a lida do trabalhador e libertá-lo. Pelo contrário, em inúmeras frentes e modalidades, tem o tornado ainda mais um servomecanismo do que produz. Há aí certamente implicações de distintas ordens, mas se o trabalho possui uma dimensão econômica e mesmo cultural, para compreender as condições em que se realiza e se mantém, também deve ser pensado a partir da política. Pois é na política que as condições de realização do trabalho e o reconhecimento e proteção ao trabalhador são decididos. Na semana em que comemoramos o Dia do Trabalhador, vemos que no âmbito da política, as articulações, conversas, entendimentos e desentendimentos avançam considerando as eleições majoritárias e parlamentares brasileiras de outubro. É urgente que nesta agenda de debates pré-eleitorais seja incluída a temática do mundo do trabalho e do trabalhador. |
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Nesse sentido, é necessário mapear e distinguir, em todos os níveis do processo eleitoral, candidaturas que, com sinceridade, acolhem e se comprometem com a pauta de discussões como a imediata revisão de medidas que no Brasil têm levado à precarização das condições de trabalho e redução da proteção do trabalhador em sua vida ativa e de aposentado. Se as novas tecnologias trouxeram novas lógicas e dinâmicas para a economia e, consequentemente, para o mundo do trabalho, apenas esse argumento não deve servir para que o trabalhador seja simplesmente abandonado a sua própria sorte em uma relação de forças com o poder econômico que lhe é histórica e tragicamente desfavorável. Impossível dissociar os mundos da política e da economia quando o tema são o trabalho e o trabalhador. Categoria histórica universal, o trabalho que produz tanta riqueza e tantas fortunas também produz exploração, injustiça e fome. Desigualdades e assimetrias que tornaram as sociedades cada vez mais abismais, separando ricos e pobres, e, por isso mesmo, mais violentas. O voto de todos e de cada um tem verdadeira potência para mudar esse quadro no Brasil. É preciso votar em propostas que tenham clara intenção de apoiar reformas nos direitos trabalhistas e de proteger os desempregados e aposentados. Proteger o trabalhador é dar um passo decidido para que melhoremos como sociedade, permitindo que a cidadania, em que se respeite os direitos sociais coletivos e individuais, se fortaleça. Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Reitor da PUC Minas e bispo auxiliar de Belo Horizonte
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