Todo ato de educação deve ser um ato de transformação, de mudança e promoção do ser humano e, por isso mesmo, um ato de amor. Esse “desafio” tem guiado a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais nesse meio século dedicado à formação superior. É um desafio pelo fato de a natureza confessional desta Universidade colocar, para todos que aqui estamos envolvidos com a construção do saber, o imperativo de associarmos uma exigida e atualizada formação técnica e profissionalizante a um inarredável compromisso com a formação humana e filosófica que deve contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna.
O Papa João Paulo II, em sua Constituição Apostólica sobre as universidades católicas Ex Corde Ecclesiae destaca que “a universidade nasce do coração da Igreja”. É, portanto, órgão vital, entidade de importância essencial para a cultura e o desenvolvimento dos povos ao longo da história. Numa universidade católica, os ideais e os princípios católicos devem inspirar as atividades acadêmicas como um todo, com forte empenho institucional no serviço à família humana, nos lembra João Paulo II. E deve compartilhar com as outras universidades a alegria de procurar a verdade, de descobri-la e comunicá-la, em todos os campos de conhecimento.
Assim, não há e nem pode haver contradição de natureza filosófica entre estabelecer-se como universidade – na pluralidade e abertura de pensamento que isso significa – e a identidade, que nos move e anima como instituição católica. A busca do conhecimento novo, que tenha como compromisso principal a prevalência do bem e o privilégio aos debates – em sua forma, processos e conteúdos – que efetivamente sejam substância para o desenvolvimento científico, cultural e econômico de toda a sociedade e que também alimente, em todos, o despertar para uma comunidade mais tolerante e fraterna. Tudo isso está na essência da PUC Minas. E habita, de modo cativo e cativante, o coração da Igreja.
Foi essa, certamente, a fonte inspiradora do sonho de Dom Antônio dos Santos Cabral, que dedicou sua vida à concretização da nossa universidade, em nome do qual reverenciamos todos os outros empreendedores da PUC Minas. Antes mesmo da década de 50, este pioneiro e ousado pastor, entendeu a importância de a Igreja em Belo Horizonte oferecer à juventude que saía dos colégios, quase todos religiosos, uma opção de universidade comprometida com a formação humana e cristã e socialmente engajada na luta por justiça e pelos direitos fundamentais do cidadão.
Há um sentimento, pode-se dizer, no mínimo, ambíguo, nesse momento de comemoração dos 50 anos de nossa Universidade. Se a percepção, a princípio, é de que cinco décadas constituem uma trajetória longa, duração de uma vida, esse mesmo tempo parece ínfimo, se tomarmos como referência os grandes movimentos da história e da cultura humana, ou ainda, se observarmos como parâmetro a própria milenar presença da Universidade no mundo, desde a fundação da primeira academia, no século XI, em Bologna.
Agostinho – filósofo e santo – nos ensinou que o único tempo possível na experiência de Deus é o tempo presente. Essa sabedoria nos faz compreender a efemeridade da vida que passa. Pois na eternidade nada passa. Tudo é presente. O futuro, para onde vamos, nasce do passado. E passado e futuro têm suas origens e existências naquele que é sempre presente. É Deus, Eterno, que se faz presente.
Pois se assim se dá, é no presente que buscamos o Eterno. É nele que reside a urgência de nos renovarmos cotidianamente – nos nossos conceitos, desejos e compromissos. Assim tem sido a bela e honrada trajetória da PUC Minas, nesses 50 anos: um sonho que nasceu do desejo de uma comunidade mais esclarecida e mais justa.
Seguindo os fundamentos de nossa grande missão, a Universidade continuará sua marcha histórica, pautada pela qualidade e pela responsabilidade a serviço da comunidade, sem fechar os olhos para as profundas desigualdades sociais de nosso país. Temos diante de nós, especialmente nos últimos meses, cenários de incertezas que se agudizam e obstáculos que se anunciam muitas vezes como intransponíveis. Mas, como escreveu Guimarães Rosa, viver é obrigação sempre imediata. E a história de dedicação e amor da PUC Minas, unicamente nos credencia e permite acreditarmos num futuro de mais conquistas, mas principalmente, de serviço ao povo mineiro.
Parabéns a todos que escreveram e escrevem esta tão bela história de nossa Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A Deus, o nosso louvor e gratidão.
Excerto do discurso proferido pelo reitor, prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, na solenidade dos 50 anos, no Palácio das Artes