Um processo que avança, incomodamente, há anos, no Brasil, já tem efeitos imediatos e sugere um futuro próximo de dificuldades ainda mais graves: nossas crianças e adolescentes podem ficar, em pouco tempo, ainda mais privados de professores que, por vocação e escolha pessoal, abraçariam a causa do magistério, percebendo-o na nobreza e fertilidade desse exercício profissional. A opção dos jovens pelas licenciaturas, e, por conseguinte, pelo magistério na educação básica, tem registrado quedas tão drásticas que já faltam professores em inúmeras escolas em todo o País, especialmente em escolas públicas. Talvez em todo o desenrolar desse processo nunca tenhamos vivido uma situação tão paradoxal: no momento em que o mercado de trabalho mais demanda professores para a educação básica, o interesse de novos alunos pelos cursos de licenciatura é baixíssimo. Mesmo em algumas universidades públicas, de ensino sabidamente gratuito, há mais vagas do que interessados. Situação que se torna ainda mais grave, claro, nas escolas particulares, que veem nos últimos semestres as turmas de licenciatura – seja de humanidades, exatas e outras ciências – literalmente minguando. Em algumas edições do processo seletivo, a procura de candidatos por vagas tem chegado a um terço das vagas em oferta. Estimativa recente aponta já um déficit de quase 300 mil professores apenas de Matemática, Física, Química e Biologia. Na atualiade, há um número suficiente de licenciados no País que poderiam suprir essa demanda, mas que não se interessam em assumir a sala de aula, pois encontram o que consideram ser alternativas de trabalho mais atraentes. Dados do Ministério da Educação (MEC) revelam uma situação ainda mais grave: o número de interessados em se tornar professores está caindo ano a ano, ficando ainda mais difícil atender as demandas de docentes. De 2006 a 2011, o número de alunos que entraram em cursos de licenciatura e Pedagogia caiu 7,5%. Em 2011, último ano em que os dados estão disponíveis, foi registrado o menor volume de pessoas que ingressaram nesses cursos desde 2004. Foram 662 mil matriculados em cursos presenciais e na modalidade a distância em todo o País. Não podemos esquecer também que a partir de 2016, o ensino obrigatório cobrirá a faixa etária de quatro aos 17 anos de idade, passando a incluir a educação infantil e o ensino médio. Ou seja, teremos em pouco tempo um cenário ainda mais complexo. Tentativas de explicação para esse fenômeno não faltam e, convenhamos, a maioria parece fazer algum sentido: as melhores oportunidades de emprego e salário estariam hoje no campo técnico-produtivo; a falta de perspectivas para a construção de uma carreira profissional seria outro fator de desalento e mesmo as muitas vezes difíceis condições de trabalho do professor em escolas públicas seriam outro fator de desânimo; e, sem um horizonte atraente em termos de trajetória profissional, o esvaziamento do interesse e consequente queda da demanda pelas licenciaturas tornam-se, tristemente, efeito praticamente automático. O que não faz sentido, no entanto, é imaginar que o País vai mesmo enfrentar daqui a alguns anos o já denominado “apagão” da educação, como tem sido denominado. No caso da PUC Minas, a baixa demanda acabou por levar a uma redução paulatina das ofertas de licenciaturas – os cursos de Letras (São Gabriel, Betim e Letras/Espanhol, no Coração Eucarístico), Matemática (Betim) e Geografia (Contagem). Além da diminuição de tais ofertas de graduação, a Universidade também observa claro recuo na procura pelos cursos da pós-graduação lato sensu ofertados pelo Prepes, voltados para a formação de professores. A convicção e comprometimento institucionais da Universidade, em consonância com uma opção histórica de apoio à formação de professores, fizeram com que a PUC Minas adotasse nos últimos semestres uma série de medidas, procurando manter vivas todas as suas áreas de licenciaturas. Entre as medidas, podemos citar: |
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i) a concentração das ofertas da formação de professores no Coração Eucarístico; ii) a anualização com duas entradas para os cursos; iii) a adoção da convergência de projetos pedagógicos, que permite racionalização e melhor enturmamento. Importante registrar que esse movimento de racionalização das ofertas não abriu mão da qualidade: as licenciaturas têm recebido boa avaliação, tanto nas avaliações in loco quanto no Enade, sendo que cursos como os de Educação Física, História, Biologia e Geografia obtiveram nota 5 em pelo menos uma edição do Exame. Sabíamos que tais ações, por si, não resolveriam o problema em sua totalidade, mas minimizariam um pouco a dificuldade de sustentabilidade e manutenção das ofertas desses cursos. Plano Estratégico para licenciaturas É nesse contexto que a PUC Minas está preparando o Plano Estratégico de Referência para a Formação de Professores da Educação Básica. Uma comissão que reúne representantes da Reitoria e de cursos e institutos que formam licenciados já está se reunindo e terá o prazo para, em 60 dias, apresentar o documento final que subsidiará esse programa que, não temos dúvida, materializará de modo contundente o compromisso da Universidade com a formação de professores para a educação básica. Entre as medidas já definidas estão a intensificação da alocação de bolsas integrais do Prouni nas licenciaturas. Estimamos alocar cerca de 200 bolsas integrais em cursos de licenciatura que, a partir do primeiro semestre de 2014, estarão se transferindo, no campus Coração Eucarístico, para o turno da tarde. Em relação às bolsas, experiência nesse sentido, já realizada para as licenciaturas de Física e Matemática, mostrou-se bastante positiva. Nesse novo funcionamento, os cursos do Instituto de Ciências Humanas (ICH) passam a ser ofertados no turno tarde, com o projeto convergente entre os seus quatro cursos. Paralelamente a isso, os demais cursos mantêm seus projetos, com possível racionalidade de oferta de disciplinas, sobretudo entre o Instituto de Ciências Exatas e Informática (Icei) e o ICH. Um passo muito importante também já em estudo é a adoção de um núcleo básico comum de formação docente, em total sintonia com essa busca de qualidade para a formação do professor na PUC Minas. Em relação à educação continuada do professor, a Universidade está retomando, também em um projeto arrojado e contemporâneo, o Prepes, agora na modalidade semi-presencial. Instalados na Diretoria de Educação Continuada, e valendo-se da expertise da PUC Virtual, os novos cursos permitirão aos professores e futuros professores se pós-graduarem a partir de um investimento financeiro bem acessível. Além disso, poderão fazer o curso em módulos distintos presenciais e à distância. Como se pode perceber, é um grande esforço que a PUC Minas empreende de modo mais intensificado agora em direção à valorização, mas especialmente à garantia da sobrevivência de licenciaturas. Como já mencionado, a equipe nomeada pela Reitoria para a elaboração do Plano Estratégico de Referência para a Formação de Professores da Educação Básica, e que é presidida pela pró-reitora de Graduação, Maria Inês Martins, já está trabalhando intensamente para, em algumas semanas, nos apresentarem suas conclusões. Sugestões, tenho certeza, são muito bem-vindas. A sobrevivência das licenciaturas não é uma questão apenas da Reitoria ou da PUC Minas ou dos professores diretamente ligados a tais cursos. É um desafio a ser enfrentado por toda a sociedade para que possamos garantir em um futuro bem próximo uma educação de qualidade, com o devido reconhecimento e valorização daqueles que decidem abraçar a belíssima causa do magistério. Prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães Reitor da PUC Minas
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