Prof. Heles: Como o senhor definiria a PUC Minas?
Dom Mol: A PUC Minas é grande em números, em qualidade e na sua missão. Ela tem, certamente, números que impressionam, uma qualidade incontestável, mas, o mais importante, é a grandeza dos desafios traduzidos pela sua missão – que amplia os horizontes da Universidade. Nossa missão é essencialmente humanista, mas um humanismo cristão em sua radicalidade. A PUC Minas, portanto, é uma grande Universidade comprometida com o conhecimento que transforma vidas e a própria sociedade. É uma instituição que pratica um projeto de formação integral, tendo como base o humanismo cristão.
Prof. Heles: Qual a avaliação do senhor sobre a realização do planejamento estratégico na Universidade? Dom Mol: Essa empreitada que assumimos na PUC Minas se institui, primeiramente, a partir de uma efetiva necessidade. A opção de fazermos planejamento estratégico é resultado do imperativo de traçarmos nossos caminhos futuros e, ao defini-los, determinarmos nossas ações. Os resultados que já estamos colhendo são frutos da competência dos responsáveis por este processo e da garantia do envolvimento de todos da Universidade.
Prof. Heles: Quais prioridades ou opções devem se constituir nas orientações estratégicas a serem seguidas pela PUC Minas?
Dom Mol: A primeira é elevar o patamar da qualidade. Nossa meta é a excelência dos serviços que prestamos. A segunda é a transparência, ou seja, o que somos tem que ser visível. A boa Universidade que somos tem que ter força de convocação, tem que ter incidência na realidade. A terceira opção é pelo incremento da inovação e atualização permanente em duas dimensões. Quando falo de inovação, estou pensando na inovação tecnológica, como é de se esperar, mas também na inovação do pensamento, da compreensão, da hermenêutica. Desta forma, a qualidade que temos, somada a um esforço de incidência na realidade, só pode resultar numa boa contribuição para o processo de renovação da sociedade.
Prof. Heles: Quais devem ser as áreas de atuação hoje para que a PUC Minas desempenhe o seu papel?
Dom Mol: Destaco três elementos clássicos: a formação profissional e tecnológica, por meio da graduação; a produção do conhecimento e o aprofundamento do mesmo, por meio da pesquisa e da pós-graduação; e a extensão, que proporciona aos estudantes experiências sociais importantíssimas para sua futura vida profissional e que funciona também como corolário de sua atuação, pois o compromisso sociotransformador de um profissional imprime diferença em sua presença. Lembro também que a atuação da PUC, respeitadas estas três áreas, se dá na modalidade presencial e também virtual, sem prejuízo da qualidade.
Prof. Heles: E, no futuro, quais devem ser essas áreas de atuação?
Dom Mol: O futuro para mim é amanhã. Creio que temos que ter especial atenção com, pelo menos, quatro pontos importantes: 1º) a ampliação do ensino a distância, porque quantitativamente nossa atuação ainda é modesta, embora seja com uma qualidade reiteradamente reconhecida; 2º) a ampliação da pós-graduação, sobretudo do lato sensu. Nosso desejo é que o aluno que aqui se gradua continue conosco na pós-graduação, consciente de que a Universidade tem ainda muito a lhe oferecer. O stricto sensu já nos indica quais são as áreas de conhecimento nas quais mergulhamos mais profundamente. Elas não podem se alargar indefinidamente, ao contrário, precisam, sendo poucas, verticalizar o conhecimento; 3º) devemos ampliar a formação por meio dos cursos tecnológicos, não para espessar a onda de ensino superior no Brasil, mas para atender a uma necessidade relativa ao desenvolvimento de várias áreas específicas do País; 4º) para falar de algo interno, precisamos investir e inovar nossos processos de gestão, do uso de tecnologias, informacionais e organizacionais.
Prof. Heles: Qual deve ser o papel da PUC Minas, no futuro?
Dom Mol: Tenho insistido em um aspecto: a PUC pode e precisa influenciar mais positivamente a sociedade. A sensação é de que estamos ainda excessivamente voltados para o interno da Universidade. Tudo aquilo que somos tem que repercutir mais ad extra Universidade, na dimensão social, no mundo político e econômico, no ambiente cultural, na evolução científica. Precisamos, dessa forma, extrapolar nossos muros para que a Universidade se faça mais presente, se misture e contagie positivamente a sociedade. Eu diria o seguinte: para cada acontecimento relevante neste País, a opinião da PUC importa. Que contribuição a PUC Minas pode oferecer no combate quase extenuante à corrupção, à violência, à desigualdade social, racial e de gênero, ao debate sobre a vida no planeta? Que contribuição a PUC Minas pode dar ao processo contínuo de repensamento político e econômico, de renovação da sociedade e da cultura, da arte e da filosofia? |
Ainda mais, quando penso a dimensão ad extra da Universidade, além de Minas e do Brasil, lanço o olhar sobre o mundo, hoje tão pequeno pelas possibilidades de comunicação e aproximação entre pessoas, países, e continentes. Excelentes relações institucionais internacionais já são uma realidade na PUC Minas. Rapidamente, temos avançado na internacionalização da Universidade, por meio das relações de cooperação e intercâmbio no ensino de graduação e na pesquisa. Hoje temos relações estabelecidas com cerca de 90 instituições estrangeiras.
Prof. Heles: Diante dos possíveis cenários para as instituições de ensino, quais as oportunidades que podem ser aproveitadas para que a PUC desempenhe adequadamente o seu papel?
Dom Mol: Uma oportunidade a ser aproveitada é a própria redefinição do cenário externo do ensino superior. Nesse âmbito, estamos passando por uma séria mutação: de uma expansão desenfreada, com enorme multiplicação de pequenas instituições, para um modo concentrado em grandes e poderosas instituições. Já estamos em um tempo de redesenho do ensino superior no Brasil. Esta é uma oportunidade para a PUC Minas. Só viverá nesse cenário da educação superior quem tem qualidade e um projeto claro, com diferenciais bem marcados e evidenciados. A PUC Minas, por isso mesmo, é vocacionada a permanecer na missão de praticar o ensino superior. Outra oportunidade é o processo de desenvolvimento do País, que exige engenheiros, inovadores da tecnologia, mas também, e muito, exige pensadores, professores, comunicadores, cientistas da saúde, hermeneutas dos sentidos existenciais, especialistas em Estado de Direito. O desenvolvimento do País é perceptível. Porém, este desenvolvimento não pode ser unilateral, precisa ser integral. Nossa missão é oferecer engenheiros, técnicos, profissionais do direito, das biociências, cientistas sociais, filósofos e teólogos, especialistas em tantas áreas, mas com a sensibilidade e capacidade de refletir e problematizar o complexo mundo contemporâneo. Destaco mais uma oportunidade: a sociedade está percebendo (também o mercado) que o importante não é só ter um curso superior, é preciso ter um bom curso superior; não adianta apenas ser formado, é preciso ser bom naquilo que se faz. Temos que ser bons, excelentes, naquilo que fazemos para que nossos egressos sejam reconhecidos pelo mérito e, igualmente, sejam bons naquilo que farão na sociedade e de suas vidas.
Prof. Heles: Quais devem ser os principais indicadores de desempenho da PUC Minas?
Dom Mol: Qualidade, leveza da máquina e cumprimento da missão. Qualidade em tudo o que fazemos, o que exige lapidarmo-nos permanentemente. Leveza das estruturas da PUC Minas, o que exige busca de ferramentas adequadas de medição e atuação. Cumprimento da missão, o que exige uma adesão ou uma apropriação do nosso ideário por parte de todos os agentes, docentes e corpo técnico-administrativo a serviço de nossa causa.
Prof. Heles: Quais fatores críticos de sucesso devem ser observados para atingir esses indicadores?
Dom Mol: O fator crítico de sucesso para alcançarmos esses indicadores é persistir no planejamento estratégico participativo. É um trabalho de perseverança. O dedo colocado sobre a tecla do planejamento não sai enquanto não ativarmos os resultados do planejamento estratégico. Planejamento para mim não é um dado a mais, um luxo ou modismo. Ou nós planejamos e avançamos, ou não planejamos e estagnamos. Outro fator crítico é o envolvimento, é fazer de cada um a missão que é de todos. O envolvimento dos agentes como sujeitos do "processo PUC Minas" é que nos dá garantias de acerto, pois clarifica o caminho percorrido. Não queremos andar no escuro. Lembro que a opção pela claridade é, às vezes, dolorida, porque é mais exigente, faz com que cada um se apresente e cumpra seus compromissos. Neste ponto é justo e necessário reconhecer o papel das lideranças. A liderança coletiva exercida pelos Conselhos Maiores, o Universitário e o de Ensino, Pesquisa e Extensão, os Colegiados e Departamentos. E a liderança personificada naqueles que são investidos de responsabilidades específicas, à frente de pessoas e processos porque, antes, revelaram sua liderança pessoal, seu carisma.
Decidir e fazer cumprir a decisão, como resultado de um planejamento, resume bem os fatores de sucesso que devemos observar.
Prof. Heles: O que o senhor sonha para esta Instituição?
Dom Mol: Uma excelente Universidade Católica. Para isto ela tem que ser uma excelente Universidade, humanista, que dê forte testemunho da mensagem de Jesus Cristo no mundo acadêmico contemporâneo. Se falamos de qualidade, é a excelência que buscamos. A excelência é dinâmica, viva, inacabada. É uma tarefa para sempre. |