20/08/2006 a 27/08/2006

Panos revelam costumes da Guiné Bissau


Falas di panus, a exposição que a Diretoria de Arte e Cultura da PUC Minas e o Programa de Pós-Graduação em Letras organizaram a partir da coleção da Escritora e Ex-Ministra da Cultura daquele país, Maria Odete Costa Semedo, apresenta através de mais de 30 exemplares originais, as diversas vozes e os diferentes sentidos e símbolos dos panos fabricados por diferentes etnias guinenses.

Como afirma a ex-Ministra: “Os panos falam através das suas cores! É preciso escutar as múltiplas falas dos panos: o grito dos panos pretos; os panos tingidos, de vozes cerimoniais que acalentam; os panos leves e de vozes frescas enfrentando o calor dos dias quentes de África; os panos coloridos, feitos tapetes, que nas suas falas também coloridas cantam no caminhar dos pés das noivas; os panos que sorriem matreiros balançando no gingar das ancas das moças; os lankon de vozes imponentes ditando a hora do enterro; a fala morna dos miadas, contando o peso do luto da mulher; vozes e falas alegres de bandêra di padida, de latrus e de Dom Fafe, cantando, nos ombros e nas cinturas das mulheres. Os panos simplesmente falam!"

O pano é qualquer tecido que se adapta como veste ou que se traz à cintura ou ainda que pode servir para se enxugar o corpo depois do banho. Pano de pente é o têxtil confeccionado no tear tradicional em bandas ou tiras que depois de costuradas, em número de seis tiras, constitui um pano. As costuras podem ser simples ou em kamatcha - espécie de bordado feito com agulha de costura, e com linhas de cores muito vivas. Esses panos podem, ainda, ser bordados na sua totalidade ou apenas nas extremidades. Tingidos ou tecidos a cores, os panos são usados em ocasiões várias da vida quotidiana. A denominação pano de pente advém de uma das peças essenciais usadas na confecção desses tecidos: o pente. Objeto com aspecto de um pente, entre cujos dentes fazem-se trespassar as linhas durante o processo de confecção.

Os grandes tecelões de panos de pente, ou panos de tear, pertencem às etnias Papeis e Manjacos, contudo todos os grupos usam panos, do campo à cidade. Os tecelões ou ficial, como são chamados na Guiné-Bissau, são artífices com habilidades em tecelagem de panos. Eles são os criativos desses tecidos.

Saídos do tear, os panos vão para as habilidosas mãos femininas. São as mulheres que pespontam, cosem, torcem as pontas - fazendo cadilhos -, bordam e tingem, dando o acabamento final aos panos.

Inspirados na natureza, nos animais da terra e do mar, nos acontecimentos comunitários, os tecelões vão criando os modelos, construídos através de jogos de cores muito vivas. A cada motivo que encontramos nos panos é dado um nome e os nomes têm sempre a ver com as gravuras constantes nesses tecidos. Assim, a imitação das malhas da pele das costas do crocodilo é dado o nome de Kosta di lagartu, a imitação da pele da gibóia é Irã-cegu, sua denominação em crioulo; a imagem de abelhinhas é Baguêra; panos com debuxos imitando olhos de vaca é denominado Udju di baka; panos com imagens da árvore de grande porte, considerada sagrada na Guiné-Bissau chamada poilão, tem o nome de Polôn; as letras do alfabeto inspiraram o Panu-letra. As figuras geométricas encontradas aqui e ali, nas folhas e ramos de árvores, em mastros de navios, as estrelas, vão ser elementos que entram como imagens e nomes dos panos. O pano é, pois, usado como veste e como cobertor: os lanceados ou panos leves. O pano faz parte das oferendas aos Irans, divindades tradicionais.

O Latrus preto, o Latrus branco, o Pano-letra preto e branco, o Bandeira di padida, Dom Fafe, Baguêra, Estrela, Rainha di djamba, Formiguinha, Tartaruga, são dos mais vistosos, lanceados com cores bem vivas e também em tons cinza, preto e branco; usam-se no ombro ou envolto na cintura, por cima dos vestidos. São estes panos também usados como tapete sobre o qual a noiva caminha no dia do casamento.

O pano de banda branca, costurado com linhas brancas, é a primeira peça posta à noiva, após o paninho e a calcinha, depois do banho sagrado no dia da cerimónia de rianta (cerimônia do casamento tradicional). É também esse pano de banda usado como uma das primeiras peças de mortalha de uma mulher. O pano de banda branca unidas em kamatcha é usado nas várias cerimónias fúnebres, é vestido pelas filhas e netas da ou do defunto. É a peça usada pelas noivas manjacas e nas cerimónias de casamento tradicional por noivas de outras etnias.

O miada preta é usado como última peça da mortalha que se coloca por cima do corpo. Na ausência desse, o miada branca é usado em substituição. Hoje, pela sua beleza, miada é também usado como presente e para confeccionar casacos e outras peças de vestuário. O miada lanceado é usado como pano de luto pela etnia Mancanha. A mulher que está de luto traz este pano, dobrado ao tamanho de uma banda, atado na cintura ou por cima das ancas.

Lankon, pano de dez e doze bandas, quando tecido apenas a duas cores sóbrias, principalmente a preto e branco, é a peça principal de mortalha nas etnias Papel e Manjaca, normalmente usado nos defuntos homens. Lankon serve também de vestuário aos sacerdotes tradicionais e régulos (os que levam cores variadas e vivas na sua malha). Esta peça é também sinónimo de poder por ser muito cara. Nos funerais, o número de panos colocados no caixão chega a ser superior a cem. Os panos comprados ou encomendados são guardados na mala para, em ocasiões especiais, serem usados ou dados como presentes.

Nbânhála é o pano que o tecelão constrói com os restos de bandas de cada motivo tecido por ele - uma espécie de mostruário. Assemelha-se a um pano Nbânhála remendado com vários retalhos. É esta peça que, muitas vezes, mostra a quantidade de panos tecidos pela família. Normalmente é dado de presente a ou ao caçula.

De 22 a 25 de agosto – 9h às 21h
Anexo do Teatro PUC Minas – Prédio 30 Av. Dom José Gaspar, 500 – Coração Eucarístico – BH
Visitas programadas: (31) 3319-4421
Telefone para contato Maria Odete Semedo (31) 9131-4043.

18/08/2006


PUC Informa. Editado pela Assessoria de Imprensa da PUC Minas :: (31) 3319-4917 - imprensa@pucminas.br