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Do braille ao tatame

Saber braille e ajudar as pessoas a compreenderem esse código universal, que permite com que deficientes visuais se beneficiem da escrita e da leitura, é um talento. Lutar jiu-jitsu, arte marcial de origem oriental, também. Agora imagine esses talentos combinados. É nessa mistura de talentos que Daila Castro, técnica em braille no Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) e jiu-jiteira, encontra equilíbrio.

Daila começou a atuar no NAI, vinculado à Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários (Secac), em 2016. No início de 2017, ela se matriculou na academia da PUC Minas e soube que ofereciam aulas de jiu-jitsu, quando fez uma aula experimental e se apaixonou pelo esporte. “Foi amor ao primeiro treino! Comprei meu kimono na mesma semana. Eu nunca faltava. E, quando ganhei meu primeiro grau na faixa branca, eu chorei”, relembra.

Entretanto, a trajetória de Daila como praticante da arte marcial é cheia de altos e baixos. No mesmo ano em que iniciou a prática, houve um campeonato regional e a atleta treinou bastante para poder participar. Ela ganhou a primeira luta e na semifinal, durante um golpe, teve o úmero, o maior osso do braço, partido ao meio. “Quando participamos de esporte de contato, estamos sujeitos a essas fatalidades. Foi uma fratura gravíssima que me deixou afastada do trabalho por quatro meses e de atividade física por sete”, relata.


Para Daila foi uma fase muito difícil, já que nunca havia ficado impossibilitada de trabalhar e de treinar. Pouco tempo antes de ter alta médica, ela soube que as aulas de luta no Complexo Esportivo foram interrompidas e, enquanto procurava outra academia para se matricular, engravidou. “Eu tentava engravidar há cinco anos e não conseguia. Já tinha desistido. Fiquei feliz e triste por não poder voltar aos treinos de jiu-jitsu, mas desta vez era por um bom motivo”, conta.

Após o nascimento de sua filha, Daila pode retomar os treinos e encontrou uma academia próxima à sua casa. Mas, no início de 2020, a pandemia da Covid-19 adiou novamente seu retorno ao esporte. Com a reabertura gradual do comércio, assim que as academias foram liberadas, ela voltou aos treinos, sempre conciliando musculação e jiu-jitsu. “Foi muito difícil voltar a treinar devido ao medo de lesão. Sentia muito medo de me machucar e de machucar algum parceiro. Mas, com o tempo, a confiança voltou e hoje eu me sinto confortável novamente. Sempre sinto o coração acelerar quando entro no tatame. É uma mistura de sensações e me encontro nisso”, comenta.

Em 2021, Daila voltou a participar de torneios e foi evoluindo de faixa. Contudo, não é uma tarefa fácil conciliar todas as funções.  “Preciso lidar com o trabalho, maternidade e treinos. No jiu-jitsu você aprende a controlar o impulso da raiva, caso contrário pode se lesionar ou lesionar o parceiro. Então, eu uso esse ensinamento no dia a dia para controlar estresse, crises de ansiedade e me ajudou, inclusive, no trabalho de parto. Eu imaginava que se eu conseguia lutar com homens três vezes maiores que eu e havia superado uma fratura daquela gravidade, eu seria capaz de realizar o parto”, relembra a atleta.

Para Daila, praticar uma arte marcial é sinônimo de inúmeros benefícios e ela recomenda a todos a experiência. “Não tem um dia que eu não seja grata pela oportunidade de treinar. A arte suave te ajuda a desenvolver habilidades e competências que fortalecem o emocional, psicológico, autoconfiança, autoestima, convivência, resiliência e por aí vai...”, pontua a jiu-jiteira.

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