Canal Aberto

Newsletter da Reitoria

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais | fevereiro/março de 2015 - nº 21

Grão-chanceler ministra aula inaugural sobre Hermenêutica Bíblica

Marcos Figueiredo
Dom Walmor (ao centro), com os professores Roberlei Panasiewicz, o reitor Dom Mol e o padre Evandro Maria
Dom Walmor (ao centro), com os professores Roberlei
Panasiewicz, o reitor Dom Mol e o padre Evandro Maria

Hermenêutica Bíblica e Teologia foi o tema da palestra ministrada pelo grão-chanceler da PUC Minas e arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, em aula inaugural do Curso de Teologia da Universidade, no dia 11 de fevereiro, no campus Coração Eucarístico. Dom Walmor é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, também de Roma.

Estiveram presentes o reitor da Universidade e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães; o coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, professor Roberlei Panasiewicz; o coordenador do Curso de Teologia, professor padre Evandro Campos Maria, professores e estudantes. A abertura foi com o grupo Arandela de Música Barroca.

O grão-chanceler ressaltou que o Instituto Dom João Resende Costa, do qual o Curso de Teologia faz parte, é grande esforço de investimento da Universidade, como instrumento de serviço à Igreja e à sociedade, ocupando lugar central no campus Coração Eucarístico (prédio 4).

Ele lembrou que, justamente em 11 de fevereiro, a Arquidiocese de Belo Horizonte completara 94 anos, história de muita riqueza, fontes inesgotáveis de ações, testemunhos, acontecimentos que sustentam o caminho da Igreja e de todos que se engajaram e por ela passaram. A história da Arquidiocese de Belo Horizonte estará retratada em volumes, cujo primeiro número foi lançado em 2013.

Ao discorrer sobre o tema da aula inaugural, Dom Walmor disse que a preocupação formativa precisa ultrapassar a mera apropriação conceitual, que é muito importante, mas não basta. "Só com conceitos não é possível mudar nem pessoas, nem o mundo e fazê-los avançar", disse o arcebispo, dirigindo-se aos alunos seminaristas presentes. "Às vezes não sabemos o que fazer com tanta informação, às vezes isso nos pega despreparados", observou.

No que se refere à hermenêutica, Dom Walmor disse que os limites da compreensão atingem a todos. "A interpretação e a apreciação dependem do que se armazena, da experiência de vida, da ambiência e do contexto", pontuou.

Ele explicou que a hermenêutica e a hermenêutica na Teologia, na Filosofia, na existência têm a tarefa de capacitar para lidar com os limites da compreensão e não fazer desses limites como se fosse uma "jaula". "A hermenêutica tem que ser estudada e compreendida como remédio para doença que todos nós sofremos, uns mais outros menos, que são o limite de nossa compreensão", disse.

"Nosso desafio é o de interpretar, adquirir competência para essa interpretação", ação fundamental a todo ser humano, disse. "Ninguém pode não querer não interpretar, isso seria uma renúncia à capacidade de produzir sentido. O sentido é o que nos sustenta; se faltar, mesmo que tenhamos todas as coisas essenciais, não damos conta de viver. Produzir sentido é o ato hermenêutico mais importante", explicou Dom Walmor.

O arcebispo chamou a atenção para que os estudantes não sejam somente depósito de conceitos apreendidos, mas saibam trilhar o caminho hermenêutico para um mundo novo. Ele analisou a hermenêutica como caminho próprio, ajudando na exegese para outros campos, dando competência para adentrar na linguagem, de modo a abrir e apontar caminhos e produzindo novas experiências e caminhos para mudar a sociedade. 

Dom Walmor disse que o caminho da hermenêutica geral nasceu no contexto da Bíblia, com a preocupação de compreender que é preciso se especializar na arte de interpretar, a hermenêutica bíblica como inspiradora hermenêutica geral.

Ele listou cinco estruturas fundamentais do processo hermenêutico, que, de acordo com ele, advertem para o caminho que tem que ser percorrido: a primeira, a linguagem, que produz sentido, então é necessário fazer o caminho do intercâmbio pela linguagem, por meio de diferentes linguagens, culturas e campos do saber. "O preconceito, a intolerância, a discriminação, a exclusão nascem como fruto da incompreensão de entrar na linguagem", analisou.

A segunda estrutura do processo hermenêutico diz respeito ao "horizonte hermenêutico": se não alargamos o que recebemos da família, da sociedade, entre outras instituições, perdemos grandes oportunidades de estudo, confronto, ciência e diálogo para alargar o horizonte, disse.

A terceira é a compreensão do processo hermenêutico como circularidade. Citando o filósofo alemão Martin Heidegger, Dom Walmor disse que a compreensão é circular. Não podemos nos acomodar, pensando que o lugar da compreensão seja o lugar. "Que sejamos capazes de circular, deslocar do nosso lugar para o lugar do outro", disse Dom Walmor.

A quarta estrutura do processo hermenêutico é a subjetividade, prosseguiu ele, o que de fato circula entre as pessoas em compreensão e jeito de viver, assim como a ideologia, que é indispensável, mas não como verdade única.

E a quinta e última estrutura, finalizou Dom Walmor, está relacionada à necessidade de uma melhor compreensão, abrir-se aos outros, já que "ninguém possui toda a verdade". "Não podemos, sob pena de sermos superficiais, medíocres, vivermos sem interesse de encontrarmos as fontes de reserva de sentido para alargarmos a compreensão de produção de sentido", disse.

Dom Walmor disse que precisamos da hermenêutica como remodelação, como ação de novos modelos. E exemplificou o Papa Francisco que, com coragem, determinação, proximidade, produz modelo de ação novo, sabendo buscar reservas de sentido em sua vida. "É assim que abrimos caminhos, ao lermos nos banhamos em fontes de sentido", finalizou o grão-chanceler.

« Volta