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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais | Novembro/Dezembro de 2019 - nº 34

Seminário Economia de Francisco discute caminhos para uma economia integral

Raphael Calixto
Dom Mol:
Dom Mol: "Qual é a economia que mata? É esta que está
prevalecendo no mundo inteiro"

"Qual é a economia que mata? É esta que está prevalecendo no mundo inteiro. É esta que é ensinada nas instituições de ensino, que privilegia um grupo da sociedade, que enriquece enormemente uma parcela muito pequena da população mundial. Esta economia mata. Atualmente, um grupo de 1% da população mundial detém 50% de todos os bens da humanidade", destacou o reitor da PUC Minas e bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, durante mesa-redonda no seminário Economia de Francisco no dia 11 de novembro, no Museu de Ciências Naturais, Campus Coração Eucarístico. O evento, organizado pelo Anima PUC Minas e pelo Instituto de Ciências Gerenciais e Econômicas (Iceg), reuniu alunos, religiosos, leigos, pastoralistas, professores, padres, seminaristas, funcionários, coordenadores de Institutos, além de chefes de departamentos da Universidade. Também esteve presente o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac.

"O grande farol da economia, como ela é pensada no ensino social da igreja, é o humanismo integral. Precisamos associar tudo da natureza com tudo da pessoa humana". Dom Mol destacou também que a humanidade é chamada pela fé  a viver uma economia diferente. Que prima por fazer a destinação universal dos bens pela causa bem comum, mas estamos desfocados nesta destinação, disse ele. "A destinação universal dos bens requer que seja reafirmada em toda a sua força a opção preferencial pelos pobres", afirmou. "Prioridade do trabalho sobre o capital, a prioridade da pessoa sobre o mercado. Isso é a ecologia integral defendida pelo Papa Francisco e que tem toda a preocupação com o bem-estar do povo", finalizou Dom Mol.

Durante o evento, o reitor anunciou também que três jovens representarão a Universidade em Assis, Itália, em março do próximo ano, durante o encontro mundial Economia de Francisco, organizado pelo Vaticano. O encontro reunirá jovens economistas, empreendedores e protagonistas de mudanças, provenientes de diversas partes do mundo. "Inscrevemos três projetos e tivemos a felicidade de ter os três projetos aprovados".

"É preciso criar empreendimentos capazes de colocar na frente de qualquer coisa valores essenciais para o humano e sua humanidade. É preciso recriar para, como afirma o Papa Francisco, entender que o dinheiro deve servir ao invés de governar", afirmou a diretora do Iceg, professora Ângela Maria Marques Cupertino, mediadora da mesa-redonda. A professora Ângela destacou que chegou o momento de sensibilizar empresários e agentes econômicos a trabalharem a favor da inclusão e pensarem novos modelos sociais. "Estamos preparados. Aqui hoje estamos dando o primeiro passo", frisou.

"É preciso ultrapassar a ideia de que só comportamentos individuais podem colocar a economia nos trilhos. É preciso mudança no padrão civilizacional, de políticas públicas e de governança", defendeu o professor Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, do Programa de Pós-graduação em Administração.

O professor Wander Luiz Aguiar, do Programa de Pós-graduação em Administração, afirmou que voltamos a ter, no século XXI, o mesmo cenário econômico do final do século XIX, em que 80% das riquezas produzidas estão nas mãos dos capitalistas. "Os estados estão extremamente pobres neste momento e não podem cumprir a sua função. Lembrando também que esta desigualdade gera violência. A desigualdade social pode machucar as pessoas", ressaltou. Nesse cenário, as empresas sociais surgem como uma proposta para uma mudança em conformidade com a proposta de Francisco. "Empresas sociais nascem com o objetivo social, atuam onde o governo não está, onde o mercado não atua porque não dá lucro", afirmou. E apresentou a empresa social de agricultura urbana, criada por ele em 2016. O objetivo da empresa é aumentar o consumo de orgânicos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, agregando pessoas que queiram produzir orgânicos para consumo próprio. "Não há lucro. O lucro é aplicado em projetos sociais", explicou o professor Wander.

Rede de Economia de Francisco

O professor padre Áureo Nogueira de Freitas, coordenador do Anima PUC Minas, destacou a importância do evento para fazer ecoar o convite do Papa Francisco por uma economia de fato integral. E destacou a presença da PUC Minas na Rede de Articulação Brasileira para a Economia de Francisco, que foi apresentada pelo cientista político Rudá Ricci, professor da PUC São Paulo. O primeiro encontro nacional da Rede acontecerá na próxima semana, nos dias 18 e 19 de novembro, na PUC São Paulo. A rede se pauta pelos três grandes eixos da Economia de Francisco que são: acolher as experiências que já existem de economia não capitalista, construção de uma nova teoria de economia e mudança do currículo de todas as faculdades de economia do mundo.

A rede também está sendo criada em Minas Gerais. Já há núcleos nas regiões Norte, Sul, Vale Jequitinhonha e Metropolitana de Belo Horizonte, nas quais a PUC Minas está engajada na formação.

Rudá destacou também que já se inicia a articulação pelo segundo chamamento do Papa Francisco. "É o Pacto Global pela Educação cujo encontro mundial ocorrerá no dia 14 de maio", explicou Rudá.  


Encontro em Assis

Durante a roda de conversa que aconteceu em um segundo momento, os três jovens selecionados para participar do Encontro Economia de Francisco em Assis falaram sobre os projetos desenvolvidos. Emmanuele Araújo da Silveira, graduada em Economia e presidente da Associação dos Servidores da PUC Minas, apresentou o projeto Feira de Economia Solidária. A mestranda em Relações Internacionais Marina Paula Oliveira, apresentou o projeto Trabalho da Arquidiocese de Belo Horizonte junto às comunidades atingidas pelo crime da Vale em Brumadinho. E o mestrando do Programa de Pós-graduação Ramon Jung Pereira, apresentou o projeto Concursos de Empresas Sociais.

Mediou a roda de conversa a professora Luciana Fagundes, do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais e da Faculdade de Comunicação e Arte. Também participaram representantes da aldeia Pataxó, situada próximo à cidade de Brumadinho, afetada pelos rejeitos de minério da empresa Vale, com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão no início deste ano. 

 

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