Congresso Internacional de Saúde Mental

Marco significativo na atualidade

“Acredito profundamente que iniciativas grávidas de propósito geram nascimentos. Porque todas as vezes em que temos um propósito, esse propósito mira ao bem de alguém, de alguma causa, ele não permanece estéril. Ele vai gerar vida. E ao gerar vida vai descortinar processos, que permitirão que horizontes sejam vislumbrados e sonhos alimentados. Que este primeiro Congresso seja um marco significativo na atualidade, na contemporaneidade, para a discussão desse tema tão sensível”. A reflexão é do reitor da PUC Minas, Prof. Dr. Padre Luís Henrique Eloy e Silva, durante a abertura do Congresso Internacional de Saúde Mental na Contemporaneidade: diálogos sobre o tema suicídio, da PUC Minas, na noite da última quarta-feira, 18 de outubro, no Teatro São João Paulo II, Campus Coração Eucarístico. O Congresso prosseguiu até sábado, 21, no formato presencial, com a participação de docentes, religiosos, profissionais da saúde, alunos, entre outros interessados.

O evento foi uma realização da Faculdade de Psicologia, Pró-Reitoria de Extensão e Anima PUC Minas, com o apoio do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) e da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional).

Em seu pronunciamento, o reitor, que foi o idealizador do evento e esteve envolvido diretamente no processo, disse considerar-se privilegiado por participar do encontro e por poder dialogar com tantas “vozes significativas”, que contribuirão com as reflexões durante os quatro dias de evento. “Se não bastasse isso, o próprio relacionamento que se instalará com a nossa presença aqui neste teatro, nos minicursos, caminhando por aí pelo campus da Universidade, nos permitirá também com certeza uma memória abençoada disso que esse primeiro Congresso deseja ser”. Ele explicou que a PUC Minas pretende, com essa iniciativa, ser um lugar em que as diversas vozes possam ser ouvidas. Ao final de sua fala, ele pediu um minuto de silencio em respeito a todos aqueles e aquelas que, por algum motivo, retiraram suas próprias vidas. “Que neste silêncio nós sejamos ao mesmo tempo alimentados pelo desejo de jamais calar a nossa voz diante de qualquer que seja o sofrimento psíquico.”

Presidente da Comissão Organizadora, a Profa. Dra. Jacqueline de Oliveira Moreira frisou que as discussões promovidas pelo Congresso são multidisciplinares e de caráter científico-acadêmico, envolvendo diferentes áreas: Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Medicina, Filosofia, História, Teologia e Artes. “Sabemos que o tema é delicado, mas o silêncio pode produzir mais sofrimento”, disse, chamando a atenção para iniciativas de apoio como o Centro de Valorização da Vida (Tel. 188) e as rodas de conversa promovidas no Espaço Beta durante o evento. “É preciso sempre agradecer a todas e todos que tecem projetos em partilha, afetos e intervenções. Precisamos dizer que a vida acima de tudo é uma invenção, filho tecido a partir da linguagem do corpo.”

De acordo com o Prof. Dr. Pe. Jean Richard Lopes, coordenador do Programa de Pós-graduação em Teologia Prática da PUC Minas, a ideia do Congresso é oferecer uma reflexão ampla o suficiente para entender o fenômeno do suicídio, sobretudo em uma posição de empatia. “O nosso objetivo, portanto, é refletir de forma científica sim, com o rigor próprio de uma Universidade, que se debruça com os seus vários métodos, para entender o fenômeno e a situação, mas sobretudo com muito respeito”, afirmou. Ele também falou sobre o papel da Teologia nas reflexões sobre a temática do encontro: “Nesse sentido, a Teologia também não poderia estar ausente, já que também se ocupa da vida, e ao se ocupar da vida, não pode deixar de falar da morte, seja ela como se apresentar.” E finalizou: “Espero, portanto, que este congresso seja uma oportunidade muito rica de aprendizado intelectual, cognitivo, mas também de conhecimento interrelacional.”

A Profa. Dra. Betânia Diniz Gonçalves, diretora da Faculdade de Psicologia, comemorou o êxito da proposta e contou que tão logo teve o chamado do reitor para a organização, em abril, no mesmo dia um grupo de professores já estava reunido para tratar do assunto. “Foi tudo muito bem pensado, desde o título, abordagens, contribuições, semana a semana o congresso foi tomando corpo e numa proposta rica e diversa foi apresentado ao reitor. Aqui vocês terão então a oportunidade de participar do fruto desse trabalho”, explicou. De acordo com ela, o tema do suicídio deve ser tratado com “empatia, delicadeza e cuidado.” “Pela complexidade, provavelmente haveria outros aspectos a serem tratados além dos que estão previstos na programação, mas essa é uma conversa que se inicia, outros diálogos interdisciplinares sobre suicídio poderão ser propostos”, observou.

Para a pró-reitora de Extensão, Profa. Dra. Carolina Costa Resende, não é fácil reunir coragem para empreender um evento desta envergadura, em um formato colaborativo. “Vocês já devem ter sentido o aroma de feito em casa desde a entrada, onde nossos estudantes tiraram o jaleco de estagiários, monitores e bolsistas de pesquisa ou de extensão, para vestir a camisa do posso ajudar, ainda que sem saber ao certo o como gerir tantos detalhes ao mesmo tempo”, disse. Ela agradeceu ao reitor pela proposição do evento e chamou a atenção para que a PUC Minas siga responsiva diante dos desafios de seu tempo. “O Pe. Luis Henrique, nesse singelo gesto de nos convidar a esse fazer pensante, sensível e colaborativo, nos deu um exemplo grandioso de ousadia, de confiança e zelo. Espero que vocês consigam perceber essa marca no nosso jeito de fazer que de certa forma já é fruto da semeadura que podemos dizer coletiva”. Ela fez um agradecimento especial à funcionária da Proex e professora Jaqueline Silva Melo, envolvida na organização.

A pandemia da Covid-19 também esteve entre os assuntos abordados pelos componentes da mesa, por ter tido um impacto significativo na saúde mental de milhões de pessoas. “Durante esse período, muito sofrimento, muita dor e angústias foram gerados, mas também muita esperança, alívio, no desenvolvimento das vacinas em tempo recorde, o conhecimento gerado em todas as áreas, formas de combate à doença”, afirmou o pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação (ProPPG), Prof. Dr. Sérgio de Morais Hanriot. De acordo com ele, o mesmo sofrimento mental foi vivenciado pela comunidade acadêmica do programa, pois durante a pandemia muitos alunos precisaram se ausentar dos estudos por conta de problemas psiquiátricos, além de professores e funcionários. “Essa foi uma vivência, uma experiência cotidiana ao longo desses últimos anos. E é imprescindível que a abordagem nessas situações seja multidisciplinar, não tenho dúvidas disso. E daí a importância desse Congresso”, afirmou.

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado em 10 de setembro deste ano com o tema Criar Esperança Através da Ação, foi lembrado pelo Professor Eugênio Batista Leite, pró-reitor de Graduação. “Importantíssimo este primeiro seminário, para que possamos criar esperança através da ação, para que tenhamos também capacitação para lidar com a automutilação e o suicídio por meio de ações preventivas”, reforçou. Docente na área de Ciências Biológicos, Leite aproveitou para relacionar saúde mental e meio ambiente, com o intuito de valorizar a Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas), sobretudo alguns dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ele comentou sobre a importância da incorporação dos ODS nos projetos de formação dos alunos. “Esse é um desafio lançado, para todos os institutos e faculdades da PUC Minas, de que em 2024 façamos mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação, incluindo os ODS como um dos princípios formativos dos alunos. Acreditamos que dessa maneira daremos respostas aos desafios da contemporaneidade, inclusive da saúde mental, e a formação com qualidade técnica e humanista da PUC Minas seja cada vez mais um caminho, uma estrada de futuro”.

Antes da abertura, foi realizado o espetáculo teatral O Tempo das Flores, com elenco composto por seis atores formados pela Escola de Teatro PUC Minas. No dia 19, foi feita a reexibição da peça. 

Sobre o Espaço Beta

O Espaço Beta é uma iniciativa inovadora, que tem como objetivo principal oferecer acolhimento e informações sobre temas relacionados à saúde mental. É um local de suporte e orientação, especialmente projetado para enriquecer a experiência dos participantes do Congresso Internacional de Saúde Mental: diálogos sobre o tema suicídio. Participam da equipe professores e alunos treinados, que promoverão rodas de conversa com duração de uma hora, abordando uma variedade de tópicos para a compreensão e promoção da saúde mental.

Vida e Morte: dilemas fundamentais

Depois da mesa de abertura, foi realizada a mesa redonda Vida e Morte: dilemas fundamentais, mediada pelo reitor da PUC Minas, Prof. Dr. Padre Luís Henrique Eloy e Silva. Participaram os professores doutores Alexandre Henrique dos Reis, da Universidade Federal de Pelotas (RS) e coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre Suicídios e Modos de Vida (Lysis); e Carlos Roberto Darwin, emérito da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), docente apostado do Departamento de Filosofia da UFMG e pesquisador da interface entre filosofia e psicanálise; e do Prof. Dr. Pe. Jean Richard Lopes, Coordenador do Programa de Pós-graduação em Teologia Prática da PUC Minas. Antes de passar a palavra para os expositores, o reitor agradeceu a todos os envolvidos na organização, na pessoa da Profa. Dra. Jacqueline de Oliveira Moreira, presidente da Comissão Organizadora.

Para conferir a programação completa, acesse o site do evento.