Agenda PROEX
Número 122 | 9 a 15 de maio de 2022

Economia Solidária 2022

Ser humano em primeiro lugar


“Propomos pôr em prática uma nova economia, que coloque não o lucro e a acumulação de riquezas, mas o ser humano no centro, buscando reencontrar e reconstruir as vivências da partilha, da fraternidade, do comunitário”, afirmou o pró-reitor de Extensão da PUC Minas, professor Wanderley Chieppe Felippe, na abertura institucional do Seminário de Economia Popular Solidária, na manhã da última terça-feira, 3 de maio, que teve como tema Por Uma Construção Plural e Participativa.

Durante o seu pronunciamento, ele explicou a escolha da temática: “Construção plural porque somos muitos, com muitas necessidades, mas também com muitas ideias e propostas, que resultam em iniciativas, as mais diversas. Construção participativa, porque essa diversidade não nos impede de nos reunirmos, como temos feito nos últimos anos, pensarmos juntos e adotarmos práticas coletivas e solidárias.”

O professor Wanderley salientou a radical discordância do movimento da Economia Solidária em relação ao sistema econômico vigente, que nas palavras do Papa Francisco “é feito a partir de uma economia de exclusão e desigualdade, uma economia que mata”. Citando os ensinamentos do pontífice, ele disse que a Economia Solidária está voltada para o desenvolvimento sustentável local, o empoderamento das mulheres, o comunitário, a partilha e o bem comum, o que garantirá a existência humana no planeta, a Casa Comum, como se refere o Papa Francisco.

“A Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver, sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente, cooperando, fortalecendo o grupo, pensando no bem de todos e no próprio bem”, explicou.

A economista e mestranda em Administração, Emmanuele Araújo da Silveira, membro do Grupo de Reflexão e Trabalho (GRT) para a Economia de Francisco e Clara da PUC Minas e funcionária da Pró-Reitoria de Extensão, disse se sentir honrada de participar do grupo criado pelo reitor da PUC Minas, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, com pessoas que possuem vivências no que o Papa Francisco chamou de “uma outra economia”. “O nosso grupo é recente, foi instituído em julho de 2021 e desde então nós trabalhamos para o desenvolvimento da Economia de Francisco e Clara na Universidade e além dela”, explicou. Ela disse que um dos objetivos do GRT é se tornar referência em Economia de Francisco e Clara e que são várias as frentes de atuação, entre elas o grupo de estudo, o trabalho para a implatanção de uma disciplina sobre Economia de Francisco e Clara, a promoção de eventos e o diálogo com diversos setores da Universidade.

Sobre a relação da Economia de Francisco e Clara com a Economia Popular Solidária, ela explica: “A PUC vem desde 2010 com esse tradicional evento sobre Economia Popular Solidária. E hoje quando estudamos, aprendemos sobre a Economia de Francisco e Clara, nós entendemos que a Economia Soldiária está junto.” Ela cita um artigo do professor André Ricardo de Souza, da Universidade Federal de São Carlos, coordenador do Núcleo de Estudos de Religião, Economia e Política, em que ele fala que a Economia Solidária é um dos pilares da Economia de Francisco e Clara.

A mestre em Educação e especialista em Políticas Públicas Flávia Assis Alves, coordenadora da Rede Mineira de Educadores Populares em Economia Solidária e membro do Fórum Metropolitano de Economia Solidária, explicou que o fórum tem um perfil de participação, de diálogo, que se propõe ser autogestionário. Ela ressaltou a importância da autogestão e afirmou considerar esse um dos principais pilares da Economia Solidária. “Nós somos um país onde a escravidão foi presente durante quase 400 anos, onde o povo obedece, então faço questão de falar da autogestão, lembrando muito da nossa história, da nossa luta pela autonomia dos povos”, disse.

De acordo com ela, Minas Gerais conta com 15 fóruns regionais, que são compostos pelos empreendimentos solidários, entidades de apoio, como a PUC Minas, além de gestores públicos. Também destacou a importância do Conselho Estadual de Economia Solidária, composto por seis membros da sociedade civil e que segundo ela é resultado da organização do movimento da Economia Solidária e a instância máxima da política pública.

Antes da mesa de abertura institucional, houve um momento de acolhida de voz e violão, com a irmã Fátima Lessa, que é franciscana da Penitência e Caridade Cristã e membro da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara. O seminário prosseguiu com a mesa de abertura e roda de conversa ainda no período da manhã, seguido de oficinas e mesa-redonda até o turno da noite.

Confira no canal da Extensão PUC Minas no YouTube a íntegra de todas as atividades.

Feira de Economia Popular Solidária

Parte integrante da programação, a Feira de Economia Popular Solidária aconteceu entre os dias 4 e 6 de maio, no Alpendre do Encontro Papa Francisco, Campus Coração Eucarístico, reunindo cerca de 40 feirantes. Na ocasião, os expositores comercializaram em suas barracas produtos alimentícios, artesanato, itens de vestuário, entre outros. Durante a feira, houve também atividades culturais e oficinais gratuitas para os frequentadores.

Darlan Luiz Rodrigues, 32, foi um dos expositores e participou da feira por meio da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte. Durante os três dias de feira, ele vendeu pão de sal com pernil, patês e doces. Em situação de rua durante 13 anos, Darlan conta que a Economia Solidária trouxe oportunidades e uma nova perspectiva de vida para ele. “Mudou a minha vida totalmente, eu não tinha nada, não tinha um teto. Hoje em dia eu tenho casa, um filho maravilhoso, tenho tudo dentro da minha casa, só tenho a agradecer à Economia Solidária”, afirmou. Sobre a oportunidade de estar na PUC Minas, ele disse, já emocionado: “Está sendo magnífico, não tenho palavras para descrever, está sendo muito bom”. E finalizou: “O importante é estar no meio da sociedade novamente, reintegrado.”

A estudante do 5º período do Curso de Matemática Vitória Cristina Simões, 19 anos, diz gostar muito de artesanato e que a feira é uma oportunidade de ver coisas diferentes e adquirir novos produtos. Ela afirma que família sempre trabalhou com feira e aproveitou a ocasião para adquirir um brinco, um colar e uma pulseira, para ela, a avó e o namorado, respectivamente. “Acho muito importante [a Economia Solidária], porque atualmente muita gente não se preocupa com o meio ambiente, aqui tem muita coisa de reciclagem, muita coisa de movimento político, defendendo a sua opinião, acho muito importante isso no momento em que estamos vivendo”, disse.

Foto de capa: Raphael Calixto. 
Foto interna: Guilherme Estrella. 

 

Darlan (centro): nova perspectiva de vida pela Economia Solidária

Darlan (centro): nova perspectiva de vida pela Economia Solidária