Agenda PROEX
Número 33 | 27 de Maio a 2 de Junho

Seminário e Mostra de Extensão

Pró-reitor ressalta exercício da cidadania contra a perda de direitos


O exercício pleno da cidadania ainda é vacilante em nosso país, apesar de terem havido, nos vários governos após a ditadura, avanços nos direitos políticos, sociais e civis . A observação foi feita pelo pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felippe, durante a abertura do Seminário e Mostra de Extensão 2019, na manhã da última quarta-feira, 22 de maio, no Teatro João Paulo II, Campus Coração Eucarístico. "A Campanha da Fraternidade 2019, que coloca em discussão o tema Fraternidade e Políticas Públicas, é um momento extremamente importante, em que a ameaça de perda de diretos duramente conquistados estão novamente em foco. Depois de 30 anos da promulgação da chamada Constituição Cidadã, parece que é preciso reiniciar a caminhada todos os dias em direção ao exercício pleno da cidadania e da democracia".

Durante o evento, o pró-reitor de Extensão leu na íntegra a mensagem divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante a 57ª Assembleia Geral, realizada no início de maio em Aparecida (SP). Wanderley Chieppe disse que a mensagem da CNBB pode ser toda aplicada ao crime ocorrido com o rompimento da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, no início de janeiro. "Apenas a implementação de políticas públicas e a participação da sociedade poderão alterar essa realidade", disse, em relação à exploração intensa dos recursos naturais. "Até quando nós teremos esse modelo extrativista, essa busca insaciável de lucro, que mata e destrói o meio ambiente?", questionou o pró-reitor.

Wanderley Chieppe disse que a PUC Minas está desenvolvendo mais de 20 projetos em Brumadinho,  nas áreas contábil, jurídica, assistência social, meio ambiente, comunicação, entre outros, com recursos assegurados pela Reitoria. "Que a população de Brumadinho possa chorar suas perdas, viver seu luto e, depois, encontrar forças e enxergar novas saídas. A mineração não vai acabar, mas pode ser regulada do jeito que a sociedade quiser", pontuou.

O pró-reitor disse ainda que nos últimos três anos a Proex intensificou a prática do incentivo à pesquisa acadêmica originada da Extensão, área que gera conhecimento, falou. A Proex também criou a revista digital Conecte-se, que está em seu quarto número, editados no fim de cada semestre, e publicou cinco e-books sobre as mostras de Extensão. As publicações estão disponíveis no site Proex, no menu Publicações.

O professor Paulo Roberto de Sousa, chefe de Gabinete do Reitor,  que participou da mesa de abertura do evento, reafirmou o apoio irrestrito da Universidade e do reitor às ações de Extensão. "Eu acredito no DNA da extensão, que puxa a Universidade para resultados diferentes", disse o professor Paulo Roberto. Citando o momento atual vivido pelo Brasil, de "quadro complexo, pesado", o professor citou a importância de não se deixar a esperança morrer, mostrando a importância da ação. Ele também destacou este momento complexo do país, com a falta de recursos financeiros para  o desenvolvimento de pesquisas, além da saída de "centenas de cérebros" para o exterior.

A mesa de abertura também contou com  a presença dos professores da PUC Minas Maria Inês Martins, pró-reitora de Graduação; Bernardo Jeunon de Alencar, representando o pró-reitor de Pesquisa e de Pós-graduação, professor Sérgio de Morais Hanriot, e da aluna Priscila Fernanda Luciano de Souza, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Campus Coração Eucarístico. A abertura teve a apresentação do grupo Slam de poesia.

O Seminário de Extensão contou com parceria do Curso de Pedagogia e do DCE, Campus Coração Eucarístico.

Nenhum Direito a Menos

A mesa-redonda que se seguiu à abertura teve a temática Nenhum Direito a Menos, com as professoras Carla Bronzo, da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, e a geógrafa Cida Miranda, educadora popular e especialisa em políticas públicas, com mediação da professora Cristina Filgueiras, do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais.

Para a professora Carla Bronzo, é nos direitos humanos que a sociedade se encontra, cada um com a sua diferença. É nas políticas sociais que a cidadania se materializa, disse, por meio de direitos civis, saúde, educação, opção de gênero. Citando o Estado de Bem-estar Social, criado no pós-guerra (início do século XX), a professora ressaltou que o Estado não é neutro, é resultado de política pública. Na Constituição de 1988, prosseguiu, há a perseguição para o alcance desse Estado Social, por meios dos direitos à saúde, educação, trabalho, e revela concepções e valores de mundo, como o princípio da universalidade, enfatizou.

Vivemos tempos sombrios a partir de 2016, com o desmonte das políticas públicas e a possibilidade de as conquistas ruírem por terra, disse a professora Carla Bronzo, citando o congelamento dos gastos por 20 anos. Há um discurso de que ou o Estado não tem recursos ou é em função do desenvolvimento, abdicando-se assim de outras opções. "Vivemos uma lógica míope, que não entende as políticas públicas como investimento, de que o desenvolvimento social não traria desenvolvimento econômico também", disse. Vivemos ainda, observou, uma necropolítica, um necrogoverno, uma política orientada para a ideia de morte, de mortificação, para a eliminação daqueles que não interessam (ao governo), acrescentou. "É preciso resistir, e a extensão deve criar novas formas de resistência, da universidade para fora dela mesma. Criar novas perspectivas para defender esses direitos", enfatizou.

A professora citou a "obscenidade" da desigualdade econômico-social no Brasil, na qual 5% dos mais ricos têm a mesa renda que o 95% dos demais, e a injustiça tributária no país, no qual os pobres e classe média são muito mais tributados do que os ricos, pontuou.

A geógrafa Cida Miranda contou sua trajetória de vida para mostrar como se tornou uma cidadã. Vinda de família de sem-terra e camponesa da região Noroeste do Estado, ela concluiu o ensino primário aos 13 anos e em 1976 se tornou professora na zona rural, onde fazendeiros dificultavam o acesso de crianças à escola. Fundou sindicato de trabalhadores rurais, época em que os trabalhadores rurais eram considerados baderneiros e terroristas, disse, "assim como hoje". Foram 33 assentamentos na reforma agrária na região, que tem camponeses reconhecidos, com voz. Em 1985 seu pai foi morto por causa de conflito de terra, tendo sido retirada daquele ambiente por estar marcada para morrer também. Se disse "exilada urbana", por ter saído da região e ido para Belo Horizonte. Observou que sua fala está relacionada ao direito à memória, as lutas são coletivas, não individuais. "Existe hoje uma política pública para matar essa memória, esse desejo de transformação. Direito à memória é direito de existência, é política pública", em contraponto à tentativa de invisibilização dos movimentos sociais.

Lançamento de e-book

Durante a abertura do Seminário e Mostra de Extensão 2019, foi lançado o e-book Ressignificando a relação teoria e prática: reflexões sobre as Práticas Curriculares de Extensão da PUC Minas. O livro é organizado pelas professoras Ev’Ângela Batista Rodrigues de Barro, Lucimar Magalhães de Albuquerque e Marcia Colamarco Ferreira Resende.

O objetivo é mostrar através dos relatos de alunos e professores que “o lugar universitário da aprendizagem profissional transcende a sala de aula e não se encerra em absorção de teorias e técnicas, mas, sim, abrange aspectos que interagem com as representações sociais, com a dinâmica dos valores humanos e com a formação de cidadãos. Portanto, demanda mais espaços para o diálogo entre a teoria ensinada e as dinâmicas da sociedade que se vive”.

O livro conta com a apresentação do pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felippe, e é composto por artigos científicos e relatos de experiências de alunos.

Acesse a integra do e-book no site da Proex.

Seminário e Mostra de Extensão

Seminário e Mostra de Extensão 2019 foi realizado nos dias 22 e 23 de maio, no Campus Coração Eucarístico, com o tema Políticas Públicas e Cidadania. Foram 12 mesas-redondas, 11 oficinas e a apresentação de 60 trabalhos aprovados, tendo sido 120 deles inscritos. "É nossa forma de contribuir na produção do conhecimento na Extensão e na transformação da realidade, de modo que nossa indignação possa produzir conhecimento", enfatizou o pró-reitor na abertura do evento. 

A Mostra de Extensão e o Seminário de Extensão, antes realizados separadamente, a partir deste ano ocorre em evento único no primeiro semestre. O objetivo da mudança é favorecer uma troca mais intensa de experiências e conhecimentos entre os participantes dos dois eventos.

A organização do Seminário e Mostra de Extensão ficou a cargo da Assessoria Acadêmica e dos núcleos Políticas Sociais e Urbanas (Nupsu) e Tecnologia e Inovação (Nutei), com o apoio dos funcionários, estagiários, extensionistas e professores da Proex. 

O tema do evento está em sintonia com a Campanha da Fraternidade de 2019, cujo tema é Fraternidade e Políticas Públicas, e o lema: Serás Libertado pelo Direito e pela Justiça.

O evento será realizado nos demais campi e unidades, com programações e datas específicas.

Foto: Raphael Calixto.