Agenda PROEX
Número 31 | 13 a 19 de maio de 2019

Seminário mostra a importância da economia popular solidária

 

"É nós junto que constrói a economia solidária, quem não tem ela dentro de si não faz ela acontecer", pontuou, no seu linguajar simples, Francisca Paulina, de 71 anos, representante do Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária, em depoimento durante o Seminário, na manhã da última terça-feira, 7 de maio, na multimeios do prédio 14, Campus Coração Eucarístico.  "A única porta de saída é a economia solidária, para sobreviver como cidadão, de forma digna", disse a integrante do movimento, que mora em favela e nunca frequentou escola.

Mãe de nove filhos, 32 netos e vários bisnetos, Francisca falou de sua vivência no movimento que a reconheceu como cidadã, valorizando a sabedoria popular. "A sociedade é selvagem, o sistema não dá chance de alguém sobreviver a ele, então temos que lutar", incentivou os participantes do seminário, que lotou a sala multimeios. "Vamos dar as mãos e traçar nosso próprio caminho", reforçou.

Durante o evento, o professor Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, do Programa de Pós-graduação em Administração, da PUC Minas, disse que a fala de Francisca Paulina mostra claramente a luta para mostrar que cada um existe culturalmente, existe como pessoa e como trabalhador e por isso a economia popular solidária traz esperança. Dirigindo-se aos presentes ao Seminário, o professor ressaltou que são eles é que fazem a Universidade ficar mais forte, cumprir seu papel como educadora. Disse que o conhecimento relevante não está somente no âmbito das universidades, e que nelas é também lugar para a economia solidária. Falou sobre a necessidade de se qualificar e aumentar a participação social. Armindo Teodósio lembrou que a economia popular solidária tem o papel de gerar emprego e renda e exercitar de forma conjunta o viver.

Apesar da importância atribuída à economia popular solidária, o professor Armindo Teodósio observou que a EPS continua invisível, "em Minas Gerais tem pujança, mas não tem visibilização". Citou que os catadores de material reciclável também fazem parte da economia solidária e que em Minas está havendo ameaça de fechamento do Centro Mineiro de Resíduos. O professor Armindo Teodósio disse que a economia popular solidária, que nasceu com os catadores, está ameaçada no Brasil, com grandes empresas querendo retirar esse catadores das ruas. Disse que em Brumadinho há uma "minerodependência", as pessoas não conseguindo enxergar, como outra fonte econômica, o artesanato, o turismo, as cachoeiras. "Há o desafio de se reforçar a economia solidária, ela não pode ser chamada somente para consertar estragos da economia tradicional". De acordo com o professor, a economia popular solidária é o melhor indicador da segurança pública e as políticas públicas têm que ter maior participação social para serem mais eficientes. "Economia popular solidária é questão de desigualdade social, é questão racial, é questão do meio ambiente, ensina a se dar mais valor ao que se joga no lixo".

Estiveram presentes, à mesa de abertura, os professores Tânia Cristina Teixeira, do Núcleo de Trabalho e Produção (Nutra), da Pró-Reitoria de Extensão; Raphael Vasconcelos Amaral Rodrigues, subsecretário de Trabalho e Emprego da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social; João Marcelo, da Providens – Ação Social Arquidiocesana; Francisca Paulina, do movimento de Economia Popular Solidária; e Flávia Macedo, da Subsecretaria Municipal de Trabalho e Emprego de Belo Horizonte.


A professora Tânia Cristina, representando o pró-reitor de Extensão, professor Wanderley Chieppe Felippe, disse que as atividades apoiadas pela PUC Minas sobre a economia solidária crescem a cada ano. "Esses dez anos da Feira de Economia Popular Solidária e os dez anos do Seminário refletem o trabalho que é feito no conjunto da Proex PUC Minas", enfatizou a professora. É um movimento que está também dentro da Universidade, está na missão dela de promover desenvolvimento social e humano", está no nosso coração, no nosso exercício, na sala de aula, nos projetos, disse, agradecendo também ao Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais (Iceg) da PUC Minas que dá o suporte todos os anos para a realização da Feira de Economia Popular Solidária, no Campus Coração Eucarístico.

Raphael Rodrigues ressaltou que o evento da economia solidária é uma oportunidade de aproximação entre academia, governo e sociedade. De acordo com ele, atualmente a economia popular solidária responde por 40% da geração de renda no Estado, tendo sido Minas o primeiro a apresentar política pública nesta área, por meio da Lei Estadual 15028, de 2004. São 2,5 mil estabelecimentos comerciais e mais de 13 mil sócios, gerando mais de R$1milhão de renda anuais, observou. Raphael Rodrigues disse que o papel do Estado é o de consolidar a atuação dos empreendimentos solidários.

João Marcelo disse que o Seminário e Feira de Economia Popular Solidária são espaços para que os integrantes do movimento possam comercializar seus produtos (a Feira aconteceu de quarta a sábado, 8 a 10 de maio, em frente ao Teatro João Paulo II, Campus Coração Eucarístico). O integrante da Providens disse ainda que a economia solidária terá papel importante na reconstrução da cidade de Brumadinho após o rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, no final de janeiro. Ele citou que a Campanha da Fraternidade 2019, que tem como tema Fraternidade e Políticas Públicas, considera pensar o trabalho como política pública, e o papel do Estado de regulá-lo e apoiá-lo.

Flávia Macedo parabenizou a PUC Minas pela realização do Seminário de Economia Popular Solidária e os com que trabalham com esta temática . "Que esse movimento cresça e seja Belo Horizonte referência para todo o país", disse.

Na segunda mesa formada, estiveram presentes o professor Armindo Santos de Sousa Teodósio, do Programa de Pós-graduação em Administração da PUC Minas; e Felipe Paschoal de Moura, economista conselheiro do Corecon-MG e analista de trabalho e renda do governo de Minas Gerais.

Felipe Moura ressaltou a presença da economia solidária na concepção de uma perspectiva do trabalho de forma mais ampla, sendo essa modalidade de economia integrante de política estatal. Citando o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (2016-2017), Felipe Moura falou sobre a importância de se qualificar a participação cidadã a cada dia, por exemplo, aumentando o conhecimento, pelos próprios integrantes do movimento de economia popular solidária, sobre a temática. Disse que a Campanha da Fraternidade 2019 lembra sobre a importância de que se pode trabalhar uns com os outros. "As pessoas também produzem em grupo, isso está crescendo e exige nossa participação", considerou. Ressaltou o crescimento dos direitos, como os civis, e atualmente os direitos de fraternidade que, de acordo com ele, referem-se ao que é de todos, como o meio ambiente.

Felipe Moura citou que a Reforma Administrativa do Estado de Minas Gerais, projeto de lei 367/2019, prevê como mecanismos de governança os conselhos de política pública; conferência estadual; e mesa de diálogo. E que dois programas dispõem sobre a inclusão produtiva para o mundo do trabalho e a consolidação da política de economia solidária. "A economia solidária tem papel muito importante na união de trabalho e justiça", considera. "Os grupos fazem parte de um todo, pela organização do trabalho existe a possibilidade de se levar aos outros o que lhes é devido", disse, referindo-se a um dos princípios da Igreja. De acordo com Felipe Moura, a economia popular solidária tem programas e metas a alcançar, mostrando sua força para melhorar indicadores de qualidade de vida, entre outros desafios.