Leitura abre novas perspectivas para presos
“Embora eu esteja presa entre estas tristes grades, a leitura me faz e me transporta para outros mundos e com histórias mais felizes que a minha, e isso me faz uma pessoa melhor, uma mãe melhor, uma filha melhor, um ser humano mudado e melhor.” Esse é o depoimento de uma das presas que participa do projeto Remição pela Leitura, coordenado pelo professor Davidson Sepini Gonçalves, do Campus Poços de Caldas. O projeto de extensão, do Curso de Relações Internacionais, inspirou a tese de doutorado dele, que foi defendida no último dia 14 de março. Os resultados surpreenderam o docente, pois os benefícios obtidos extrapolaram o objetivo do projeto, que é a remição da pena. Ele estimulou reflexões, o desenvolvimento pessoal e despertou o interesse pela retomada dos estudos, abrindo novas possibilidades fora da prisão.
A tese de doutorado, defendida na Unesp de Rio Claro, São Paulo, consistiu em analisar, sob a perspectiva do paradigma indiciário [um conjunto de princípios e procedimentos], as resenhas produzidas durante o ano de 2017, tentando entender como se deu a experiência de leitura em presídios, quais os efeitos nos leitores e no cotidiano do cárcere.
“Para mim, ter participado deste projeto foi uma oportunidade única, na qual eu me envolvi com diversificadas histórias maravilhosas e mágicas, livros muito bons, foi um grandioso aprendizado que me impulsionou para um recomeço nos estudos, me mostrou que eu sou capaz de mudar a minha história e dar um novo sentido para minha vida. Creio que ganho minha liberdade este ano bem mais preparada”, afirmou uma presidiária. “Está me ajudando muito a esmagar um fator que tem contribuído já há anos com a destruição da minha autoestima”, disse outro.
Segundo o professor, “os resultados da pesquisa incentivam a continuidade do projeto de extensão, uma vez que os benefícios da leitura são grandes e a experiência de alunos e professores é imensamente humanizadora”. O projeto, desenvolvido ora como extraedital ou edital, acontece desde 2015 nos presídios das cidades de Poços de Caldas, Andradas e Botelhos, no Sul do Estado.
Durante as visitas, nas galerias das celas ou no pátio de banho de sol, o professor e extensionistas do projeto mantinham contato com os presos, perguntando sobre o interesse em participar do projeto de leitura, esclarecendo as regras, providenciando as inscrições e apresentando os livros para serem escolhidos. Na sequência, orientavam sobre a elaboração das resenhas.
Na prática, o preso tem o prazo de 21 a 30 dias para a leitura de uma obra literária. Ao final desse período, deve apresentar uma resenha da obra lida, o que possibilita, após avaliação e aprovação da resenha por uma comissão própria, a remição de quatro dias de pena. E ao final de até 12 obras lidas e resenhadas, terá a possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses.
