Agenda PROEX
Número 8 | 24 a 30 de setembro de 2018

XIII Seminário de Extensão

Confira como foi a abertura, no Campus Coração Eucarístico

 

“Apesar de possuir menos de 3% da população mundial, o Brasil responde por quase 13% dos assassinatos ocorridos em todo o planeta. São 54 mil mortes violentas por ano. A taxa de homicídios no país é mais alta do que na Síria, uma nação que está em guerra”. A observação foi feita pelo professor Wanderley Chieppe Felippe, pró-reitor de Extensão da PUC Minas, representando o reitor, professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, na cerimônia de abertura do XIII Seminário de Extensão. O evento que aconteceu na manhã da quarta-feira, 19 de setembro, no Teatro João Paulo II, Campus Coração Eucarístico, com o tema Violências: contribuições da Universidade para seu enfrentamento.


“O XIII Seminário de Extensão propõe a reflexão sobre o tema da violência a partir de duas perspectivas: a violência direta, que é definida como aquela mais evidente, assaltos, homicídios. Em outra linha temos a violência cultural, que é a intolerância religiosa, o preconceito racial. São intolerâncias cometidas no dia a dia e que vão se tornando culturais”, explicou o professor Wanderley Chieppe. Ele também afirmou que a Extensão Universitária pode contribuir para o tema através de um processo de reflexão em torno da forma como produzimos e disseminamos o conhecimento, que precisa estar conectado às demandas sociais. “A Extensão demanda uma convivência crítica com a sociedade, já que promovemos um encontro de conhecimentos, ensinando e aprendendo com o mundo”, finalizou. Também compuseram a mesa de abertura a pró-reitora de Graduação, professora Maria Inês Martins, e o professor Bernardo Jeunon de Alencar, representante e assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-graduação.


Na sequência aconteceu a conferência A Arte do Diálogo – transformando conflitos em possibilidades, ministrada por Mônica Mumme, fundadora do Laboratório de Convivência, sediado em São Paulo, e consultora e capacitadora em Justiça Restaurativa. Para Mônica, quando o pertencimento, competência e autonomia, que são necessidades básicas do ser humano, são supridos, há uma redução da violência. “Quando conseguimos construir espaços de humanização das pessoas e abertura ao diálogo, criamos outras dinâmicas de convivência, em que a violência perde espaço”, afirma. “É preciso uma mudança de paradigma, mudança no nosso modo de conviver”, completa. Mônica acredita que um dos caminhos é a adoção da justiça restaurativa como política pública de combate à violência. A justiça restaurativa tem o ser humano e sua humanidade no foco das ações. Busca, no resgate das potencialidades e fragilidades da condição humana, respostas para o desenvolvimento de alternativas diante de atos conflituosos e violentos. É uma resposta à pouca efetividade das tradicionais sanções e punições. “Muitas vezes a gente entende uma política de segurança pública como mais armamento, redução da maioridade penal, mais prisões. Na verdade, as estatísticas mostram que outros países fizeram isso e que não funcionou”, ponderou Mônica. “Aos poucos estamos conseguindo trazer uma perspectiva de que segurança tem a ver com inclusão, diálogo, transformação das causas da violência”, finalizou. A abertura do evento contou com a apresentação do rapper MC Easy CDA.

O extensionista e estudante Vitor Manoel Ferreira Mendes, do Curso de Publicidade e Propaganda da PUC Minas Praça da Liberdade, estava presente no momento da abertura e visitou o Museu Sensorial, uma das atividades permanentes da programação, localizado numa sala do prédio 30, que tem o objetivo de provocar no visitante os sentidos da violência, por meio do olfato, visão e tato. Ele tirou dessa experiência a importância de se colocar no lugar do outro e comentou o atual cenário de violência no país: “Acho que está violento como um todo. Falta paciência, falta respeito, falta compreensão, e na hora que junta tudo isso a violência toma conta mesmo”.

Fórum de Violência Urbana

Integrado à programação do XIII Seminário de Extensão, aconteceu o Fórum de Violência Urbana e Impacto Socioeconômico da PUC Minas, promovido conjuntamente pela Providens - Ação Social Arquidiocesana e a Pró-Reitoria de Extensão. O evento procurou refletir sobre a cidade e a violência urbana e o impacto gerado no ambiente socioeconômico.


Participaram da mesa de abertura do Fórum o padre Júlio César Gonçalves Amaral, vigário episcopal para a Ação Social e Política da Arquidiocese de Belo Horizonte, e o professor Wanderley Chieppe Felippe. O padre Júlio César Gonçalves destacou a importância de sermos construtores da paz. “É necessário engajamento político e construção de nova cultura de transformação da estrutura da sociedade”, afirmou.


Durante a conferência Violência Urbana e o Impacto Socioeconômico pela Luta da Habitação e Reforma Urbana: alternativas urbanas do habitar, o diretor-presidente da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), Cláudius Vinícius Leite Pereira, afirmou que há um déficit de 56 mil domicílios e que 150 mil deles estão em condições inadequadas de habitação. De acordo com dados da Urbel, órgão executor do Sistema Municipal de Habitação Popular, atualmente 366 mil pessoas vivem em favelas, 93 mil em loteamentos irregulares e 20 mil em ocupações organizadas. “Nem todas as áreas irregulares são violentas, mas as áreas violentas são irregulares. Na ausência do poder público, outros poderes se destacam e ocorre a ascendência de grupos sobre os territórios”, frisou Cláudius Leite.


Já a professora Viviane Zerlotine da Silva, co-coordenadora do Escritório de Integração do Curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas, que desenvolve assessoria técnica aos movimentos sociais, sem teto, catadores e moradores de rua, falou sobre a violência simbólica contra os catadores. “A invisibilidade, a disputa de espaço com os carros, o confinamento em galpões e a insalubridade são os principais fatores apontados pelos catadores”, explica Viviane. “São pessoas com pouca escolaridade, acima de 50 anos, que não se enquadram no mercado de trabalho”, completa. O Escritório de Integração trabalha em parceria com as associações de catadores pela formalização do trabalho para que não seja uma atividade alienada do cotidiano da cidade, uma vez que essa categoria de trabalhadores tem importante papel na promoção da qualidade do solo e da água. “Os catadores agem no território como promotores de vida. Eles têm um lugar muito importante na cidade. São as pessoas que planejam e gerem os resíduos. E fazem isso a partir de um princípio fundamental de sustentabilidade, que é planejar a gestão desses resíduos a partir de uma microbacia hidrográfica, fazendo a triagem e a destinação correta a partir dos topos dos morros até o fundo dos vales”, explica. A partir do momento em que acontece a formalização do trabalho do catador em uma bacia hidrográfica, na visão da professora ocorre a possibilidade de que o trabalhador possa gerir seus modos de vida, faça a autogestão da cadeia produtiva das reciclagens, torne possível a obtenção de material de melhor qualidade através da interação com moradores na coleta porta a porta e, além disso, gerencie a relação com a natureza e os impactos ambientais.


A abertura do Fórum de Violência Urbana e Impacto Socioeconômico contou com a esquete teatral com o Grupo Corpo em Movimento, do projeto de extensão Vila Fátima.


Outras informações sobre a programação no site do evento.