IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 124 | 20/11/2020 a 25/12/2020

Fala, Professor!

Caminhos para uma consciência antirracista

As agências antirracistas são múltiplas e, mais, em seu caráter pluridimensional refutam a naturalização da raça, bem com a normatização da violência, enquanto processo reverberador das políticas coloniais. Neste sentido, nós queremos frisar que as pautas, agendas e lutas antirracistas, têm como objetivo a quebra do terror político ligado à racialização e o ataque a desumanização de pessoas negras, como lastro ideológico, político, econômico e epistêmico, da modernidade.

Pensar as rotas de insurgência contra o racismo antinegro é considerar que as bases constituintes das nossas percepções remontam o que nós chamamos de “espelho colonial”, isto é, uma formulação político-representativa que aniquila a presença afirmativa de pessoas negras no imaginário social, pois reflete a “legitimidade”, a “excelência moral” e a “validação da vida”, enquanto estes pressupostos se alinham à brancura e aos outros eixos que determinam quem pode ser reconhecido em detrimento de quem não pode. Ao discutirmos sobre raça e, por consequência, sobre o racismo, levamos em consideração processos políticos, incidências de terror, colonização e escravização que alimentaram o que o filósofo Achille Mbembe compreende como “alterocídio, isto é, constituindo o outro não como semelhante a si mesmo, mas como objeto propriamente ameaçador do qual é preciso se proteger, desfazer, ou ao qual caberia simplesmente destruir”. (2018, p. 27).

É preciso que nós nos vejamos localizados politicamente, enfrentemos a nossa história e quebremos o que a pensadora Chimamanda Ngozi chama de o “perigo da história única”. Queremos destacar a importância ética de ouvir as vozes negras e, mais, de nos descentralizarmos, através do diálogo. (TEIXEIRA, 2019).  A reciprocidade das narrativas, a localização dos sujeitos e o compromisso ético de ressignificar os valores fundantes e violentos da nossa realidade social, são pressupostos indispensáveis para pensarmos e agirmos de forma antirracista.

REFERÊNCIAS:

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: n-1 edições, 2018.
NGOZI, Chimamanda. O perigo de uma história única. Tradução de Julia Romeu. São Paulo: Companhia das letras, 2019.
TEIXEIRA, Thiago. Inflexões éticas. Belo Horizonte: Editora Senso, 2019. 

SAIBA MAIS*:

O Brasil é mais racista que os Estados Unidos?
As polícias brasileiras mataram seis vezes mais que a norte-americana em 2019, sendo que 75% das vítimas eram negras. Dados piores refletem encaminhamentos diferentes para a questão racial.

OPINIÃO: Anticolonialismo, principal legado de Milton Santos?
Ele, que completaria 93 neste maio, não rompeu barreiras apenas por ser negro num contexto acadêmico esmagadoramente branco. Crítico à globalização capitalista, defendeu protagonismo das periferias para combater as desigualdades.

*(seleção do clipping produzido pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e Arquidiocese de BH)

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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