IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 124 | 20/11/2020 a 25/12/2020

Destaque

Viva Zumbi dos Palmares!

Preto parado é suspeito, e correndo é ladrão. Se vocês não estudarem não irão dar em nada. Essas frases eram muito comuns até pouco tempo. Nascidos nos subúrbios nos piores dias. Com votos da família de vida feliz. O pai não metia o dedo na viola, nem sorria, nem parecia ser feliz, pelo contrário. Aqui, alguns trechos parafraseados e adaptados da música de João Nogueira - Espelho que, por sinal, tem muito a ver com o Brasil. Vivíamos até pouco em um país com regime militar. Quando surge a democracia, mais tarde, descobrem que ela não é para todos, em especial para os negros.

José de Souza Martins escreveu em seu O Cativeiro da Terra que “essa sociedade recebeu o trabalhador livre sem ter feito a acumulação responsável por tal liberação...” Aqui ele se refere aos imigrantes “livres”, que recebemos em grande quantidade já a partir do último quartel do século XIX. Imagina o contexto anterior, ou seja, no período da escravidão. Foi um sacrifício libertarmos os escravos negros, na sua grande maioria oriundos de África e ao contrário da experiência em vários outros lugares aqui foi em doses homeopáticas: Lei Eusébio de Queirós, Lei do Ventre Livre, a Lei Áurea, como num conto de fadas, promulgada pela princesa. Mas até hoje, vemos manchetes, tal como: “ESCRAVIDÃO, Agentes federais resgatam trabalhadores em situação análoga à escravidão Local de trabalho, na Zona da Mata mineira, não oferecia condições mínimas de higiene pessoal” (Jornal Estado de Minas 17/11/2020)

Celso Furtado é outra leitura básica fundamental. Ele nos ajuda a entender algumas frases que até hoje nos circundam. Em um dos trechos de seu Formação Econômica do Brasil ele diz que “a mão-de-obra escrava pode ser comparada às instalações de uma fábrica: a inversão consiste na compra do escravo, e sua manutenção representa custos fixos. Esteja a fábrica ou o escravo trabalhando ou não, os gastos de manutenção terão de ser despendidos...”

Estamos em pleno século XXI e continuamos vendo “fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde”. Um grande “chão de giz”, lembrando Zé Ramalho, a saber: proporção de negros nas prisões cresce 14%(há pouco, em agosto 2020, no Paraná,  uma Juíza puniu alguém por 14 anos por causa de sua cor negra); desemprego entre negros é 71% maior que entre brancos; negros são maioria que ficam internados por covid-19; brancos continuam recebendo 50% a mais que negros no Brasil e por aí vai.

Como disse Octavio Ianni em seu Escravidão e Racismo, nossa sociedade “revela uma capacidade excepcional para controlar, disciplinar, reprimir ou dar novas soluções aos antagonismos e conflitos sociais de base racial. Mas não tem mostrado capacidade especial para resolver as situações de antagonismo e conflito segundo os interesses das raças discriminadas, oprimidas ou subalternas...”

Em 2019, foi publicado o livro de Laurentino Gomes intitulado Escravidão: Do primeiro leilão de ativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares (Volume I). Nos faz lembrar dia 20 de novembro, do kilombo, palavra transcrita para o português, como disse Gomes como quilombo, que vêm do quimbundo, um dos idiomas falados em Angola. Descreve ele que “...os maus tratos obrigam-os por vezes a fugir para o mato e a viver aí pilhando tudo o que encontram pela frente, vingando-se de certo modo dos tormentos que lhes foram impostos...”

No momento que encerramos  este breve exercício de reflexão sem dor, lemos outra  matéria, agora  no Jornal Folha de São Paulo, de 16 de novembro de 2020 intitulada Negros e mulheres avançam nas urnas e aumentam presença no 2º turno das eleições: Na estreia da cota racial, pretos e pardos eleitos para prefeituras subiram para 32% do total, índice ainda distante da realidade populacional”.

A luta continua.

 

SAIBA MAIS*:


No país, 7 em cada 10 que moram em casas com algum tipo de inadequação são pretos ou pardos
Levantamento do IBGE, com dados da Pnad, retrata a desigualdade racial no acesso à moradia de qualidade.

Eleição 2020 marca ascensão da diversidade na vida política do país
Votação de transexuais, mulheres negras, indígenas e quilombolas mostra a força da representatividade nas urnas. 

Homem negro é espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour na véspera do Dia da Consciência Negra
Imagens mostram as agressões, na cidade de Porto Alegre, a João Alberto Silveira Freitas, que não resistiu aos socos e pontapés. Ele morreu poucas horas antes do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Os assassinos foram presos.

*(seleção do clipping produzido pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e Arquidiocese de BH).

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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