IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 123 | 01/10/2020 a 01/11/2020

Destaque

Preservação ambiental: obrigação de todos

O debate social sobre a preservação do meio ambiente nunca esteve tão latente no Brasil. Os números de queimadas em áreas como Amazônia e Pantanal atingem números históricos. Além disso, a temperatura segue batendo recordes em diversas regiões do país. O que pode ser feito para que a preservação do meio ambiente ainda possa ser encarada por cada um dos brasileiros como obrigação fundamental à sobrevivência da nação e da humanidade?      

Entre as muitas notícias impactantes sobre a destruição do meio ambiente nas últimas semanas, está a de que o Ministério do Meio Ambiente não gastou nem 1% da verba destinada a preservação. As informações são de um  levantamento do Observatório do Clima. O dinheiro serve para planejar e combater desastres ambientais, dos mais variados. A partir dos dados do Sistema Integradi de Planejamento e Orçamento, o Observatorio do Clima concluiu que o Ministerio tinha em caixa mais de 26,5 milhoes e usou pouco mais de 105 mil: 0,4 do dinheiro permitido. Para o professor André Rocha Franco, que é coordenador e docente dos Cursos de Especialização em Educação Ambiental e Sustentabilidade e Gestão Ambiental Integrada, existe uma paralisia da política ambiental do governo. A constituição cidadã de 1988 possui um capítulo dedicado exclusivamente ao Meio Ambiente, explica o professor André. Segundo ele, apesar dessa preocupação, a situação da desigualdade social e ambiental no país ainda prevalece e foi aprofundada nos últimos anos. “A pergunta que paira sobre as nossas cabeças é: para quem e para que foram direcionadas as amenidades e os benefícios resultantes da criação de políticas ambientais no Brasil?”

O negacionismo do presidente e a disputa de narrativas

 O professor André pontua que vemos e vivemos uma tentativa do setor produtivo, sobretudo ligado às grandes corporações, de criar estratégias para estabelecer um modelo de "capitalismo ecológico" que utiliza do discurso ambiental para "amenizar" os efeitos degradantes de suas ações sobre o ambiente e embutir a dimensão ambiental como fator de agregação de valor nos produtos. “O discurso político-ideológico da sociedade brasileira atual, pautado por irracionalidades, por intolerâncias e pelo negacionismo extremo, nos faz acreditar que nunca houve tamanha polarização e desconfiança no país. A ciência, por exemplo, virou um campo de batalha. Os fatos são constantemente negados por uma grande parcela da população. A educação, que deveria ser a principal pasta e agenda nacional, esteve e está nas mãos de indivíduos altamente incapacitados”, conclui.

“A irracionalidade das narrativas impede que as pessoas enxerguem as verdadeiras causas dos problemas que estão vivendo. Como exemplo, podemos tratar do negacionismo climático, em relação às causas humanas do aquecimento global”.

 

 

 

 

Inpe: 20% do Pantanal já foram queimados

Segundo o professor André, estudos revelam que o Pantanal, maior área úmida continental do mundo, pode demorar décadas para se recuperar e esse quadro pode levar a uma perda inestimável de riqueza de biodiversidade nesse bioma, o que poderia acarretar em prejuízos enormes para o Pantanal.  “A causa da maioria dos incêndios no Pantanal é de origem humana. Devido ao período seco pelo qual o bioma passa e que pode estar associado ao desmatamento da Amazônia, uma das principais nutridoras de chuvas para a região, ações antrópicas utilizadas, por exemplo, para “limpeza” de áreas de pastagens com a utilização histórica de fogo, podem intensificar os efeitos das queimadas na região”, explica .

Caminhos da preservação

A preservação do meio ambiente também é tema importante nas audiências do papa Francisco. Na catequese da terceira Audiência Geral pública, em setembro, ele afirmou que cada um de nós deve ser guardião do ambiente. Segundo o Pontífice, “a contemplação, que nos leva a uma atitude de cuidado, não significa olhar para a natureza de fora, como se não estivéssemos imersos nela. Estamos dentro da natureza! Fazemos parte da natureza! Pelo contrário, faz-se a partir de dentro, reconhecendo-nos como parte da criação, tornando-nos protagonistas e não meros espectadores de uma realidade amorfa que só se trataria de explorar”.

O Brasil mal visto pelo mundo

O Brasil, como detentor de grande parte da Amazônia e de inúmeros ecossistemas com relevante interesse ecológico e ambiental, é um dos principais sujeitos relacionados aos acordos internacionais ligados à questão ambiental. “A questão ambiental ultrapassa fronteiras políticas, sendo  fundamental que haja uma articulação entre os países do mundo, com o intuito de compartilhamento de soluções para sustentabilidade do planeta”, afirma o professor André. A soberania das nações não deve (ou deveria), segundo ele, se sobrepor aos interesses globais de sustentabilidade ambiental do planeta. No caso do Brasil, por exemplo, a “agenda ambiental” do governo atual e o não cumprimento de normas ambientais ligados ao favorecimento de interesses para grupos sociais específicos, está resultando em prejuízos econômicos para o país, sobretudo ligados à eliminação de fundos e redução de investimentos internacionais e à diminuição das exportações. “Caso não ocorram mudanças significativas no modelo de gestão ambiental no Brasil, as consequências socioeconômicas no âmbito das relações internacionais, além das inerentes perdas ambientais de extrema significância, podem ser catastróficas”, alerta.

Para saber mais:

2020 é última chance de salvar o clima, diz ONU. (Observatório do Clima)

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil (Nações Unidas Brasil)

 

A importância da educação ambiental

Richard Afonso, é aluno da PUC Minas no curso de graduação em Geografia. Ele atua com o professor André no projeto Universidade Sustentável. Para ele, as políticas públicas devem tratar a gestão ambiental de forma integrada.  “É preciso entender o dever de assegurar e proteger todas as áreas de vegetação, sejam as áreas ocupadas ou as distantes de meio urbano, como as áreas remanescentes”, defende. Segundo que, no que diz respeito à grande parte da população, existem benefícios fundamentais que as áreas naturais oferecem a nós, seres humanos, e que não caem do céu, como a chuva. “Esses fenômenos possuem grande tempo de formação e podem não se fazer presente daqui a alguns anos (deixe de lado a ideia de geração futura, muitos de nós ainda têm muitos anos pela frente)”, completa.

Qual a importância de se criar a cultura da educação ambiental?

"Dissociar as questões ambientais do nosso cotidiano já demonstrou, historicamente, um padrão destrutivo e inviável de relação entre os sujeitos ambientais (homem enquanto parte indissociável do meio). A Educação Ambiental (diria Educação Socioambiental) tem como princípio fundamental levar os indivíduos a um pensamento crítico de seu cotidiano, incluindo a reedição de comportamentos que geram desequilíbrio no ambiente natural e social, inclusive,  advindos de processos históricos. A conscientização, tarefa complexa, se dá por uma construção - e constante  reconstrução - de valores, aprendizados e experiências. São necessárias vivências, dinâmicas, atenção e carinho para o alcance da sensibilização ambiental.  Tal sensibilização é de extrema importância para que as realidades dos indivíduos - socioeconômica, sociocultural e ambiental - estejam em pauta, assim, a relação de pertencimento como ferramenta torna a Educação Socioambiental um instrumento importante para o rompimento de diversos paradigmas, uma vez que é preciso identidade para haver mudanças."

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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