IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 121 | 01/06/2020 a 01/07/2020

Fala, Professor!

Flexibilidade psicológica em tempos de quarentena

Carolina Mesquita de Oliveira

 

Há alguns meses estamos enfrentando uma pandemia de proporções históricas e que pede o extraordinário de nós. Em semanas vimos o novo coronavírus se espalhar por muitos países e chegar ao Brasil. Um inimigo com dimensões microscópicas cuja invisibilidade lhe confere poder de alcançar tudo. Com ele vimos nossa rotina mudar: escolas, restaurantes, bares, festas, muitos postos de trabalho, áreas públicas, tudo foi fechado para evitar a propagação descontrolada da doença, o colapso do sistema de saúde e preservar a vida da população.

Essa mudança exigiu que rapidamente nos adaptássemos a essa nova realidade. E fomos bombardeados por receitas de como viver esse novo tempo. Se fizermos uma busca rápida na internet veremos uma infinidade de dicas que vão desde praticar meditação, yoga e aproveitar o tempo para se dedicar a desenvolver uma nova habilidade, até maneiras de manter a rotina como antes. A verdade é que não temos receita e cada um está passando por esse momento de forma diferente, estamos sim debaixo da mesma tempestade, mas não no mesmo barco.

De uma hora para outra precisamos restringir a nossa circulação e as nossas atividades aos limites das nossas residências. Isso deixou explicito as diferenças nas divisões de tarefas entre homens e mulheres tanto relacionadas aos cuidados com a casa, quanto as demandas dos filhos. Além disso, muitos de nós vimos nosso privilégio de termos as tarefas domésticas terceirizadas ser alterado e agora está sendo preciso executá-las e perceber seu pouquíssimo reconhecimento. Vimos o quanto a casa pode ser um local muito perigoso para as mulheres que estão em relacionamento abusivos e o quanto que sozinha, é ainda mais difícil enfrentar a violência. Aqueles que precisaram continuar saindo para trabalhar se viram tendo que executar uma série de ações para manter a sua saúde e daqueles com quem convive, não dá mais para chegar em casa e se esticar no sofá sem antes passar por todo o repertório de higienização. Máscara, álcool em gel, água sanitária viraram produtos de proteção importantes para nossa saúde.

Além de todas essas mudanças, também passamos a praticar o distanciamento social e com ele deixamos os abraços e os toques para depois. Os encontros tiveram que ser adiados e nos vimos vulneráveis, saudosos, com medo, aflitos. E foi preciso aprender novas formas de demonstrar a importância que as pessoas tem na nossa vida, a saudade que sentimos, o afeto que tantas vezes não conseguimos demonstrar.

As famílias começaram a se encontrar de um jeito diferente. Se antes o café da manhã era o primeiro momento de discussão do dia, das primeiras cobranças e a saída apressada era a forma de esquivar das dores daquela relação mal compreendida, agora a 70 dias em casa, foi preciso criar uma nova forma para este encontro matinal.

A redução das nossas possibilidades de esquiva experiencial nos fizeram entrar em contato com sentimentos desagradáveis de frustração, de tristeza, de solidão, pensamentos de impotência e incapacidade, sensações de exaustão. E agora, quando todos esses sentimentos, pensamentos e sensações estão presentes, aí, no seu corpo, observe, atentamente, como um cientista curioso e tente responder: o que você precisa? Talvez de um tempo para se cuidar, para tomar um bom banho, fazer um refeição tranquila. Talvez necessita pedir ao seu companheiro para que ele divida com você as tarefas de casa. Também pode ser que você precise de atenção, carinho, cuidado e que caso continue executando tudo sozinha, não há porque as pessoas te ajudarem. Pois bem, quando não fugimos da dor, e conseguimos identifica-la, estamos também entrando em contato com nossos valores. Dor e valor são faces opostas de uma mesma moeda. Sendo assim, onde tem dor, tem valor. E diante dessa dor, pare e pense, as ações que você tem feito te ajudam a alcançar a vida que você quer ter? Mais do que seguir todas as receitas para a vida feliz na quarentena, observe o que você, na sua realidade, na sua vida, e na sua história, precisa para viver esse novo tempo. Com a quarentena, não há de ser forte, há de ser flexível!

 

 

 

 

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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