IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 119 | 14/04/2020 a 14/05/2020

Opinião

Como manter a saúde mental em épocas de tantas inseguranças? Partindo da premissa de que a vida, tal como a conhecíamos, já não existe mais, a psicóloga Cláudia Regina Barroso, coordenadora de cursos do IEC PUC Minas, aponta caminhos para que o bem-estar prevaleça, confira.

O mundo que conhecíamos está mudando

Cláudia Regina Barroso Ribeiro *

O que fazer e como preservar a nossa saúde mental em tempos de isolamento social, já que estamos ficando o dia todo dentro de casa? O atual momento é de incerteza: as pessoas ficam mais angustiadas, reflexivas, com medo e ansiedade, pois não sabem o que irá acontecer.

Como lidar com esse momento de medo, insegurança, angústia pelo qual todos nós estamos passando, uns mais e outros menos? Não temos a menor ideia de como nos defender. O vírus está numa guerrilha. Estamos aterrorizados, é uma sensação muito ruim e cada um reage de uma forma.

Estamos vivenciando tempos difíceis onde eu faço um paralelo de trocar o pneu  do carro com do carro andando. Nunca passamos por uma situação tão grave e tão  intensa que ninguém sabe as dimensões que irão alcançar.  De uma hora para outra, todas as famílias se viram debaixo de um único teto, as crianças e os jovens não foram mais para a escola, os pais estão trabalhando dentro de casa, ou deixaram de trabalhar. Aquele momento no qual cada um tinha a sua vida foi meio que sequestrado, e agora todos entram numa convivência forçada como se o fim de semana e o feriado meio que avançasse semana de trabalho adentro. E, além disso,  com as ferramentas digitais, muitas pessoas estão trabalhando muito mais, pois não têm mais o horário de iniciar e terminar tais atividades. Todo dia é dia, toda hora é hora.

As pessoas estão buscando soluções para se sentirem melhor nesse momento de incertezas e sofrimento. Penso que, antes de mais nada, as pessoas precisam se autorizar a se sentirem mal. A dizer para si mesma: Eu estou mal, eu estou nervoso, eu estou preocupado com a minha empresa,  com meu emprego, com minha família, com a minha mãe,  com meu pai , com o meu filho... As pessoas têm que viver essa dureza emocional e a partir daí, começar a construir.

E o que fazer para manter a saúde mental e física dos trabalhadores nesse momento? Uma maneira seria o empresário dar uma palavra semanal para os seus empregados, através de correspondência, email, compartilhando o momento que estamos passando. Realçar que, mesmo frente a essas enormes dificuldades que o mundo está passando, milhares de pessoas estão trabalhando seja em home Office ou na própria  empresa. É obvio que as pessoas que estão trabalhando estão apavoradas, mas elas devem saber dar valor e sentido ao trabalho que realizam. O espírito de companheirismo e solidariedade entre elas é muito importante.

É muito importante que as pessoas criem uma rotina em suas casas. Estabelecer horários de trabalho, de refeição, de interesses mútuos e/ou separados. Os interesses separados, seja internet, leitura, atividade física, não devem ser vistos como “eu não quero estar com você”. A conversa familiar é necessária. O estabelecimento dessa rotina é necessário. E que as famílias possam pelo menos uma vez ao dia se sentar em algum momento e conversar sobre as angústias recíprocas para que elas sejam ressignificadas, falar e falar muito para que possam transformar esse momento terrível num momento de um medo contornável.     

 

Cláudia Regina Barroso Ribeiro é psicologa e doutora em educação
Coordenadora e chefe de departamento de psicologia da Puc Minas. Coordenadora de cursos de pós-graduação na área de psicolgia e recursos humanos. 

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

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