Segundo ela, um tratamento cheio de altos e baixos. “Com aproximadamente quatro anos de tratamento, tive uma recaída absurda. Estive novamente no fundo do poço. Naquele momento, eu não conseguia acreditar que havia, de fato, um tratamento para depressão e que eu poderia voltar a ser feliz. Fui diagnosticada com síndrome do pânico e transtorno de ansiedade. Hoje, eu consigo falar tranquilamente sobre isso, mas Deus sabe o quanto e de onde eu tirei força para continuar”, conta.
Muitos fatores podem ser os responsáveis pelo desencadeamento da doença. No caso de Paula, em um dia comum da vida acadêmica, ela teve um episódio incapacitante e sentiu que a doença tinha chegado a um ponto delicado. “O meu coração ficou acelerado, as minhas mãos suaram e eu fiquei sem reação! Parei, olhei aquele tanto de gente ao meu redor, e comecei a chorar. O meu primeiro pensamento foi voltar para casa e assim o fiz”, lembra. Nesse dia, Paula compreendeu que precisava de ajuda.
Em diversas oportunidades, Paula se recorda de ter ouvido “Faz um esforço, é só um pouquinho”. No entanto, era difícil organizar o pensamento. Apesar de ser cada vez mais debatida, Paula considera que a doença está muito longe de ser compreendida pela sociedade. “Depois que iniciar o tratamento, é extremamente importante não parar por conta própria; Procure grupos de apoio, porque você verá que não está sozinha e há mais pessoas nesta condição do que você imagina. As crises existem e você tem que respirar fundo”, acrescenta.
Pode acontecer com qualquer pessoa
A depressão é uma doença multifatorial. Isso significa que ela apresenta componentes biológicos, psicológicos, sociais, e é preciso compreender que a doença pode acontecer com qualquer pessoa, não sendo um sinal de fraqueza ou frescura. “A depressão é tratável com psicoterapia, medicamentos antidepressivos e, especialmente, a combinação de ambos. Os medicamentos contribuem para a diminuição de sintomas e a psicoterapia contribui na reestruturação de pensamentos e crenças disfuncionais que estão presentes no quadro depressivo”, explica a professora Alessandra Almeida Assumpção, que coordena o curso de pós-graduação em Psicologia: Terapia Cognitivo-Comportamental.
Ela considera que falar sobre suicídio e depressão sempre foi um mito e afirma que iniciativas como o Setembro Amarelo tem impacto positivo na forma como a sociedade discute e vê o problema. “A exposição do tema como uma questão de saúde pública permite a circulação de informações baseadas em evidências científicas. Isso possibilita abordar o assunto de maneira mais objetiva e não como algo que não deve ser falado, além de esclarecer algumas dúvidas à sociedade sobre perspectivas de cuidado e tratamento, desmistificando preconceitos (sobre suicídio e depressão) e permitindo reflexões em diferentes espaços como empresas e organizações, por exemplo.”, afirma. Dessa forma, a sociedade pode entender que falar sobre o suicídio não significa incitar ou contribuir para que o ato seja cometido. “De fato, os estudos demonstram que ao falar sobre o tema a pessoa tende a se sentir menos ansiosa e mais compreendidas/acolhidas”, acrescenta.
O papel da família e dos amigos na recuperação
Quem convive com um familiar ou amigo que precisa de ajuda na luta contra doenças mentais, muitas vezes, adoece junto. Para a professora Alessandra Almeida Assumpção, muitos sinais de risco são importantes e devem observados. “Situações como ameaça de morte, tentativa prévia de suicídio, histórico familiar de tentativas de suicídio, depressão, ansiedade, eventos estressores (morte, término de relacionamento, relacionamentos abusivos, trauma dentre outros), perda de interesse pelas coisas, isolamento social, irritabilidade, relato de desespero e desesperança, relato de não querer ser um fardo para os outros, aumento significativo do uso de substâncias químicas e condições crônicas de saúde”, diz. Outro caminho para a família é conhecer o funcionamento da rede de atenção à saúde mental de seu município e estado. “Inclusive, se alguém estiver em risco iminente, não o deixe sozinho. Busque ajuda profissional, como os serviços de emergência”, afirma.
A compreensão social do suicídio
A professora Alessandra Almeida Assumpção, que atua com pacientes portadores de sofrimento mental, destaca que é possível prevenir o suicídio desde que haja uma maior cobertura em termos de assistência à saúde mental e ampliação ao tratamento. “É fundamental que diferentes setores da sociedade se comprometam com a proposta. Uma estratégia mais ampla para combater o suicídio é restringir os meios que possibilitam a tentativa incluindo pesticidas, armas de fogo e alguns medicamentos. A sociedade como um todo é fundamental para a prevenção do suicídio já que pode contribuir como rede de apoio social, lutar contra o estigma e apoiar as pessoas que perderam algum um ente querido devido ao suicídio”, afirma.
Alessandra esclarece que a percepção social do suicídio ao longo da história contribui para a forma como lidamos com o ato na contemporaneidade, apesar dos avanços ocorridos em relação à saúde mental. “Em geral, o suicídio sempre foi visto como um pecado, sinal de fraqueza ou frescura. Hoje se compreende que o comportamento suicida diz respeito a uma infelicidade profunda que na maior parte dos casos o suicídio pode estar ligado a algum transtorno mental (depressão, transtorno bipolar, transtorno de personalidade borderline e dependência química, dentre outros)”, considera.
Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas
imprensaiec@pucminas.br | (31) 3131-2824