IEC | Pós-graduação lato sensu PUC Minas

número 106 | 15/06/2018 a 31/07/2018

Destaque

O quanto de você existe em suas escolhas?

 

 

De tempos em tempos uma espécie de grilo falante acende em nós a luz da dúvida: será que estou no caminho certo? Tal como o personagem da Disney, que servia de consciência para o boneco Pinóquio, esse alarme interno que levanta a dúvida sobre nosso presente e as possibilidades de futuro não deve ser ignorado. Aproveitando a pausa do meio do ano, convidamos a psicóloga e empreendedora, professora Laura Ituassu, para falar sobre a importância das autoavaliações constantes. Para ela, essa prática é necessária especialmente em tempos como o nosso, que não valoriza muito os processos que exigem mais tempo e maturação para acontecer. Confira:

 

1) A contemporaneidade encurtou os tempos: atualmente é difícil encontrar pessoas que não reclamam da falta dele e dos excessos de atividades. O que este cenário traz de empecilhos no que diz respeito à clareza no momento de escolher caminhos pessoais e profissionais? E como contorná-los?

Tomar boas decisões envolve 3 elementos: ter uma visão panorâmica do contexto no qual se dará a decisão, ter um nível de autoconhecimento que possibilite dar significado ao caminho escolhido e ter uma capacidade de elaboração criativa que una estas duas dimensões. São estes os ingredientes das boas escolhas pessoais e profissionais. Mas o que são boas escolhas? São aquelas que nos levam a autorrealização, um sentimento de que aquilo que fazemos tem um propósito além do materialmente valioso. Não é o retorno financeiro em si, nem o quão amplo pode ser o reconhecimento ou o status social que determina a realização pessoal. Trata-se de algo que dá valor a nossa existência e que nos permite delinear nossa atuação no mundo.
As informações estão ao alcance de um toque, mas contextualizá-las exige a capacidade de saber pensar. Sentir o que nos agrada é fácil, mas compreender como desenvolver atitudes que nos façam sentir bem exige capacidade reflexiva. Para pensar e refletir, é preciso um estado de acalmia interior que ilumine aquilo que não está imediatamente perceptível. Com a velocidade que a tecnologia trouxe para quase todos os setores da vida humana e a rapidez com que precisamos dar respostas a tudo, este momento de intimidade consigo mesmo tem ficado mais difícil de acontecer. Para contornar esta dificuldade é preciso abrir brechas na rotina diária construindo espaços para o contato consigo mesmo que vão desde leituras, hobbies, caminhadas, meditação até processos psicoterapêuticos ou de coaching e, principalmente, momentos de convivência com quem amamos. É o caso de se perguntar: o quanto de você existe em suas escolhas?


2) Quais as vantagens do momento atual no que toca as nossas escolhas? A maior quantidade de ofertas de cursos, os novos modelos de economia e possibilidades diferentes de atuação no mercado podem ser vistos como vantajosos para quem está em um momento de reavaliação pessoal?

A grande vantagem do momento atual é a gama de possibilidades que cada um pode ter ao escolher qual caminho trilhar. Há liberdade para escolher estilos de vida e caminhos profissionais. Na chamada pós modernidade, a diversidade de valores é presença certa. Vale querer formar família e criar raízes ou ser um nômade digital; vale construir uma carreira tradicional ou optar por um perfil original que mescle áreas de conhecimento; vale trabalhar menos para ter mais qualidade de vida, numa filosofia minimalista ou se tornar empreendedor e numa startup com inspiração futurista. Também é possível buscar experiências de trabalho em outras culturas antes de se definir profissionalmente ou investir em programas bolsas acadêmicas em outros países. Há programas de intercâmbio para adultos e para a 3a idade como também formação para atuação em atividades de impacto social para quem quer utilizar sua experiência numa cultura colaborativa. Enfim, há lugar para todos.
Com tão amplo leque de opções é preciso saber o que cada um quer fazer da sua vida e é aí que a liberdade, torna-se também fonte de angústias. A gigantesca gama de informações a que temos acesso, de nada ajuda se não soubermos o que filtrar. As inseguranças diante de um universo vasto demais podem levar as pessoas a criarem uma bolha na qual se sintam seguras. Aqueles que desconfiam que podem estar limitando seus horizontes a fim de sentirem-se mais confortáveis em meio ao caos de possibilidades, sugiro buscar experiências diversificadas que forneçam percepções de ângulos diferentes da realidade: conversar com pessoas de diferentes níveis sociais; aprender outras línguas; experimentar atividades que nunca tiveram tempo ou coragem de experimentar; engajar em grupos que façam atividades interessantes. Observem suas reações, conheçam seus medos, acolham seus desejos e, a partir daí, reavaliem suas perspectivas, traçando metas e buscando aliados para chegar lá.


3) Como identificar a necessidade de reavaliar o percurso pessoal e profissional? Quais instrumentos existem para auxiliar esta busca?

A necessidade de reavaliação nasce da insatisfação com o que a vida está nos proporcionando. Mas a vida não é o cenário que construímos a partir das escolhas que fazemos? Não se pode negar que nascemos em um contexto biopsicossocial que oferece limites as nossas possibilidades mas, se as condições básicas de saúde e sobrevivência estiverem garantidas, as limitações deste contexto nos incomodam menos do que aquelas que construímos para nós mesmos. E não é preciso chegar a limites de insatisfação para reavaliar nossa trajetória de vida, " Viver é afinar o instrumento de dentro pra fora, de fora pra dentro. A toda hora, a todo momento ", já dizia a música Serra do Luar. Todos os desafios do dia a dia são oportunidades de avaliar nossa atuação e desenvolver competências, a toda hora, a todo momento.
Para ajudar nesta reavaliação constante. existem processos que levam o indivíduo a conhecer sua personalidade e ressignificar a vida - como a psicoterapia; existem processos que ajudam o indivíduo a estabelecer metas e examinar suas dificuldades no percurso até elas - como os processos de coaching; existem processos de mapeamento de competências que traçam perfis de habilidades tecnicas e socioemocionais - que orientam o indivíduo a usar seus talentos a seu favor e a cuidar dos seus pontos de vulnerabilidade, além de inúmeras ferramentas específicas de cada um destes processos.. É importante que, ao procurar por algum destes processos, as pessoas pesquisem, informem-se e busquem aquilo que sentirem maior afinidade.


4) Qual ou quais profissionais podem ajudar neste processo?

Psicoterapeutas, coachings, empresas de mapeamento de competências e assessoria de carreira. São muitas as formações que habilitam um profissional a ajudar no processo de revisão e construção de novos percursos de vida e todos estes caminhos podem trazer contribuições relevantes para o indivíduo. Seja qual for o embasamento teórico, a técnica utilizada e o processo desenvolvido, o que realmente fará diferença é uma formação bem fundamentada, profissionais filiados a entidades oficiais representativas de categorias profissionais e metodologias que tenham respaldo científico. Todo o cuidado é pouco com modismos e diplomas de fachada.


5) Qual a importância do ócio e do lazer para a vida das pessoas?

São períodos de revitalização. Somos seres que exigem cuidados para funcionar bem. Tais cuidados não dizem respeito apenas às engrenagens que mantem a máquina funcionando mas também ao combustível que a nutre. Períodos de descanso, de realização de atividades prazerosas ou apenas momentos de "jogar o tempo fora", preguiçosamente, nos mantém ativos e saudáveis. O lazer também precisa ser planejado e a atividade de planejamento é também nutridora. Portanto, uma outra pergunta necessária em sua autoavaliação é: o quanto de lazer você coloca em sua vida? Mesmo sem ter reservas financeiras para planejar um lazer mais sofisticado, é possível encontrar atividades muito agradáveis e gratuitas ou até mesmo estruturar alguns programas com amigos, vizinhos ou com a família.

 

6) O que você sugere para as pessoas que desejam iniciar este processo de investigação da vida?

Dê a partida, comece de alguma forma. Procure um profissional que possa orientá-lo; pesquise novas formas de fazer o que deseja ou trace você mesmo novos planos e comece a executá-los. Siga sua intuição, mova-se. Toda experiencia é fonte de autoconhecimento se você souber aproveitá-la. Tenha esportiva e aguente os resultados negativos. Ninguém nasce sábio, fazendo boas escolhas. É preciso fazer más escolhas para adquirir experiência. Enquanto isto, aprecie a sua caminhada!
 

* Laura Ituassu é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica, Mestre em administração, Professora de cursos de pós-graduação em instituições diversas, atuou como psicoterapeuta durante 25 anos e atualmente é diretora executiva da empresa Share360, especializada em mapeamento de competências para escolas, empresas e profissionais.

 

Boletim produzido pela Assessoria de Comunicação da Diretoria de Educação Continuada da PUC Minas

imprensaiec@pucminas.br | (31) 3131-2824